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Missionária amiga de irmã Dorothy cobra punição para mandantes do assassinato

Belém - A missionária Jane Dweyr, que trabalhou diretamente com a freira Dorothy Stang ; assassinada em fevereiro de 2005, na região de Anapu e Altamira, no Pará - declarou que o sentimento dos amigos e familiares diante da confirmação da pena imposta a Rayfran das Neves Sales, autor dos disparos que mataram irmã Dorothy, é de ;justiça feita;. A freira cobrou, ainda, a punição dos mandantes do assassinato da missionária.

No mesmo ano do crime, Rayfran confessou ser o autor do assassinato de irmã Dorothy e foi condenado a 27 anos de prisão. A pena foi confirmada hoje (10) no Fórum Criminal de Belém, após a anulação do novo julgamento que seria realizado em atendimento a pedido da promotoria pelo Tribunal de Justiça do Pará.

;O que hoje foi decidido [a confirmação da pena] foi justo porque não deixa o criminoso impune, mas não podemos esquecer que ainda existem os mandantes do assassinato e que ainda estão soltos no meio da população. Eles também precisam ser julgados, retirados do convívio da sociedade;, ressaltou a freira, à Agência Brasil.

Ainda segundo irmã Jane, no julgamento do caso Dorothy Stang, é preciso levar em consideração a presença de um ;consórcio de fazendeiros; que atuam ilegalmente em questões fundiárias no interior do Pará. De acordo com a freira, no primeiro depoimento prestado, em 2005, Rayfran teria dito que ;uma pessoa encomendou o crime em troca de R$ 50 mil;.

Juntamente com irmã Dorothy e integrantes da Pastoral da Terra, entre outros, Jane Dwyer iniciou o Projeto de Desenvolvimento Sustentável nos assentamentos Esperança e Virola Jatobá, localizados nas proximidades da pequena cidade de Anapu, a mais de 15 horas de estrada da capital, Belém. Os dois assentamentos têm, atualmente, cerca de 180 famílias.

;A gente ainda vive sob a pressão desse grupo de pessoas. O povo de Anapu vem tentando levar adiante os Projetos de Desenvolvimento Sustentável e tentando apenas defender a floresta e suas famílias, mas sofrem perseguição direto;, revelou.

Para o promotor de Justiça Edson Souza, o pedido feito para anulação de novo julgamento, pela defesa de Rayfran, foi uma surpresa. Ele explicou que, ainda assim, os mandantes do crime serão julgados e também punidos.

De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público, no dia 12 de fevereiro de 2005, a missionária Dorothy Stang seguia para uma reunião com colonos para tratar de questões referentes ao Programa de Desenvolvimento Sustentável. No caminho, encontrou Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista.

O primeiro confessou ter efetuado os disparos e o segundo, que cumpre pena de 17 anos de reclusão, presenciou tudo. Os fazendeiros Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura são acusados pelo mando do crime. Ambos aguardam julgamento em liberdade.

;Apesar da surpresa, é direito do réu não querer mais ser submetido a novo júri, aceitar a pena que lhe foi inicialmente imposta e, com isso, ter acesso aos benefícios que e lei lhe permite mediante o tempo de reclusão que possui;, explicou o promotor.