As organizações criminosas não utilizam o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, apenas como porta de saída de cocaína para a Europa, como mostrou o Correio na edição de ontem. O aeroporto também vem sendo usado como porta de entrada de drogas sintéticas, como ecstasy e LSD (ácido lisérgico), para consumo interno no país.
Nos últimos 14 meses, a Polícia Federal fez duas grandes apreensões no principal aeroporto mineiro. Ao todo, foram encontrados 35 mil comprimidos de ecstasy (só um carregamento tinha 25 mil comprimidos) e 4 mil pontos de LSD. Para se ter uma ideia, só a quantidade de ecstasy apreedida em Confins nessas duas ocasiões é maior do que toda a droga encontrada pela Polícia Federal (PF) no país em 2005.
A primeira apreensão em Confins, em setembro do ano passado, chamou a atenção da PF. Além dos 25 mil comprimidos de ecstasy, a ;mula; (transportador da droga) trazia 100 gramas de haxixe e 90 gramas de skank (maconha potencializada). Era um carregamento grande. Apesar de ocuparem pouco espaço, os 25 mil comprimidos equivaliam a 61% da maior apreensão já feita no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro (41 mil comprimidos, em 2008); e um quarto do recorde nacional (101 mil comprimidos, em São Paulo, também no ano passado). Nas boates e festas de música eletrônica, os comprimidos seriam vendidos a uma média de R$ 40 a unidade, rendendo aos traficantes cerca de R$ 1 milhão.
[SAIBAMAIS]A apreensão dos 25 mil comprimidos de ecstasy em Confins está ligada diretamente ao aumento do número de voos internacionais oferecidos no aeroporto. A ;mula;, um brasileiro de 24 anos, havia embarcado em Lisboa com a droga e desembarcou em Confins, onde foi presa em flagrante. Esse voo, assim como os vindos de Paris, Miami e Panamá, foi inaugurado no ano passado e logo passou a ser utilizado pelos traficantes internacionais.
Diferentemente do que acontece com o tráfico de cocaína para a Europa, em que as ;mulas; são preferencialmente estrangeiras, no tráfico de ecstasy da Europa para o Brasil, os transportadores da droga são geralmente brasileiros, jovens de classe média que acreditam ser possível evitar a repressão ao tráfico pelo fato de o entorpecente sintético ocupar pouco espaço na bagagem. Na apreensão de 10 mil comprimidos de ecstasy em Confins em julho deste ano, a ;mula; era uma estudante universitária cearense de 22 anos. Além do ecstasy, ela havia trazido da Europa 4 mil micropontos de LSD e 1kg de skank. Caso seja condenada, a jovem ficará presa entre cinco e 15 anos.
O ecstasy (ou MDMA) é uma droga feita em laboratório e seu consumo pode levar à morte. Os principais centros produtores são Bélgica, Holanda e Polônia.
Rigor
Segundo o delegado João Geraldo de Almeida, chefe da Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Minas Gerais, a rota do ecstasy que liga a Europa a Belo Horizonte precisa ser combatida com rigor, pois tem potencial para causar um grande estrago nos consumidores. ;Essa nova rota nos preocupa muito. O consumo de ecstasy vem crescendo ano a ano, sobretudo entre os jovens;, explica.
De acordo com Almeida, a delegacia da PF que será instalada em Confins no fim de 2010 destinará atenção especial ao problema. ;Precisamos nos precaver para o previsível aumento do movimento de passageiros em Confins com os eventos esportivos que irão acontecer no Brasil;, afirma, referindo-se à Copa do Mundo de 2014 ; a capital mineira será uma das sedes do evento ; e também às Olimpíadas de 2016, que ocorrerão no Rio de Janeiro.
Máfia
Na edição de ontem, o Correio mostrou que a expansão dos voos internacionais em Confins está atraindo a atenção da máfia nigeriana. Os traficantes trazem a droga da Colômbia e, em vez de utilizar as rotas usuais, via São Paulo e Rio de Janeiro, onde as estruturas policiais e de fiscalização são maiores, buscam Confins como porta de saída alternativa. O voos Belo Horizonte-Lisboa, da TAP, disponíveis cinco dias por semana, são os mais procurados pelos traficantes. <--
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Delegacia, só no fim de 2010
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--> <-- --> A Polícia Federal não tem dúvidas: no futuro, cada vez mais, as organizações criminosas deverão recorrer aos voos do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, para tentar enviar cocaína para fora do país. Por um motivo simples: a tendência é que Belo Horizonte aumente (e muito) o número de voos internacionais, já que a capital mineira será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Com base nessa perspectiva, o superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, delegado Jerry Antunes de Oliveira, planeja instalar uma delegacia no aeroporto. ;Já temos um delegado e 20 agentes atuando em Confins, mas não temos uma delegacia, o que ajudaria muito os trabalhos. A delegacia em Confins faz parte do nosso plano de segurança aeroportuário e deverá ser instalada até o fim de 2010;, afirma Oliveira.
O chefe da Divisão de Repressão a Entorpecentes da PF em Minas Gerais, delegado João Geraldo de Almeida, concorda que a tendência é de o problema se agravar. ;Por isso precisamos investir na estrutura policial de Confins, como foi feito em São Paulo e no Rio de Janeiro;, diz. O delegado já atuou em São Paulo e foi um dos responsáveis pela implantação do novo sistema de repressão no aeroporto de Guarulhos. ;O combate ao tráfico nos aeroportos começa do lado de fora, com a vigilância de que quem chega, de quem usa o estacionamento, por exemplo;, explica o delegado.
;Com a ajuda de câmeras, nós vigiamos os passageiros que transitam pelas áreas externa e interna do aeroporto, procurando identificar comportamentos suspeitos. Assim, mesmo antes de o traficante fazer o check-in ou passar pela imigração, nós sabemos quem ele é;, ressalta Oliveira. (LF)