Jornal Correio Braziliense

Brasil

Formação de professores, desempenho de estudantes e falta de padronização curricular são os três quesitos mais deficientes do ensino brasileiro

Um acesso cada vez maior das crianças à escola contrasta com o baixo nível de aprendizado. Anos depois do ingresso, a evasão é assustadora. E embora haja sistemas eficientes de avaliação, os resultados não se revertem em melhorias. Essas e outras conclusões baseadas em dados oficiais levaram a educação brasileira a tomar bomba em sete de nove temas considerados prioritários para o aperfeiçoamento do setor. Relatório intitulado Boletim da educação no Brasil: saindo da inércia?, divulgado pelo Programa de Promoção da Reforma Educacional na América Latina e no Caribe (Preal) em parceria com a Fundação Lemann(1), atribuiu conceito insatisfatório a três quesitos: formação dos professores, desempenho dos estudantes e falta de padronização curricular na rede de ensino (leia quadro ao lado). Outro dado importante avaliado como regular diz respeito ao investimento em educação pública, cerca de U$ 1,5 mil anuais por estudante do ensino fundamental ; valor mais baixo do que o registrado em países como México e Chile. [SAIBAMAIS]Para Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Lemann, falta vontade política para gastar mais com educação no Brasil, ao mesmo em que a sociedade precisa ser ;arrebatada; em torno do assunto. ;Defendemos temas estratégicos para melhoria do ensino, entre eles o financiamento;, afirma Ilona. Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), concorda com a necessidade de aumentar os investimentos, mas destaca avanços recentes. ;Com a dívida histórica enorme no Brasil na área educacional, temos que gastar muito mais que países como a Coreia, por exemplo. Mas estamos nesse caminho, se analisarmos que, em 2003, o orçamento do MEC era de R$ 23 bilhões e, este ano, chegou a R$ 48 bilhões;, afirma. Pilar lembra ainda que o mecanismo constitucional denominado Desvinculação dos Recursos da União (DRU) foi extinto, para a área da educação, por decisão unânime no Congresso Nacional, o que significará injeção de R$ 11 bilhões por ano no setor, mas só a partir de 2011. Em 2009, o país aplicou 4,8% do PIB em educação. Outra crítica feita no relatório do Preal e da Fundação Lemann diz respeito à baixa qualidade do ensino, a despeito do número crescente de matrículas nas fases iniciais, já que mais de 95% das crianças hoje estão na escola. ;Embora o Brasil tenha sistemas de avaliações tecnicamente muito bons e avançados, vemos um desempenho fraco dos estudantes, tanto em testes nacionais quanto nos internacionais. Sentimos falta de ver uma aplicação mais efetiva dos resultados dessas avaliações, que tenha um real objetivo de melhorar o aprendizado;, ressalta Ilona. Pilar, do MEC, discorda que isso não esteja acontecendo. E cita o caso do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como uma verificação que tem ajudado a aprimorar o ensino. ;Trabalhamos diretamente com as escolas que tiraram nota ruim no Ideb em 2005 e conseguimos uma melhora geral do índice no país, na edição de 2007. Esse indicador, no período, passou de 3,8 para 4,2;, ressalta a secretária. A meta do MEC é chegar a ter um Ideb nacional de 6 ou mais para chegar ao patamar da Comunidade Europeia. A falta de padrão pedagógico nas escolas foi um dos pontos que levaram a pior menção na pesquisa, conceito D, ou insatisfatório. Pilar defende os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), criados na década de 1990, como bons indicadores de como as aulas devem ser conduzidas pelo país. ;Esse é um assunto delicado e polêmico, mas o MEC defende a autonomia do professor. Mesmo porque, num país como o Brasil, como padronizar totalmente o processo educacional? Vamos exigir um mesmo ritmo de um aluno que vive numa aldeia no interior da Amazônia e outro que mora na periferia do Rio de Janeiro?;, questiona a secretária. Segundo ela, o professor ganha, com a experiência, discernimento para decidir como abordar seus alunos. Contrária a tal filosofia, Ilona diz que os PCNs são muito vagos. ;São subjetivos demais, não dizem exatamente o que um aluno da 4; série deve terminar o ano sabendo, por exemplo. Existe, entre os docentes, uma ideologia clara contra a padronização, que só prejudica os mais pobres. Pois na classe mais esclarecida, os pais sabem minimamente o que seus filhos deveriam estar aprendendo, só que, entre os menos favorecidos, isso não ocorre;, critica. 1 - Entidades Criada em 2002, a Fundação Lemann é uma organização sem fins lucrativos, que escolheu como foco de atuação a melhoria da educação no Brasil. Já o Preal é um projeto conjunto do Diálogo Interamericano, com sede em Washington, DC (EUA), e da Corporação de Pesquisas para o Desenvolvimento (Cinde), com sede em Santiago (Chile). Foi criado em 1995 com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade e para a igualdade da educação. <--
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--> Estudo não chega ao contracheque <--

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--> <-- --> Com escolaridade maior que a dos homens, as mulheres jovens brasileiras ficam em flagrante desvantagem no que diz respeito à entrada no mercado de trabalho. Levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, na população entre 18 e 29 anos, 30% das mulheres não trabalham nem estudam. Entre os homens, essa proporção é de 12%. O dado impressionou uma das coordenadoras do estudo, Joana Mostafa, que atribui o fenômeno a um papel social feminino ainda muito ligado ainda ao cuidado do lar. ;É claro que isso está associado às tarefas de casa, ao cuidado com a família. E de forma involuntária. Não é uma opção ficar no lar. O problema é que são atividades relacionadas à mulher. Apesar de importantes, essas tarefas criam um aumento na desigualdade de gênero enorme. Imagine essa jovem chegando aos 30 anos, sem ter continuado os estudos, sem ter experiências profissionais?;, questiona Joana. A pesquisadora do Ipea destaca que o fenômeno se acentua na fase adulta, uma vez que a sociedade já assimilou como um consenso a obrigatoriedade da escola na infância e juventude, tanto para homens quanto mulheres. Elas, nesse quesito, destacam-se. Enquanto a taxa de frequência líquida no ensino médio, que significa estar na série correta de acordo com a idade, é de 56,8% entre as mulheres, no caso dos homens, esse índice fica em 44,4%. (RM)

"Não é uma opção ficar no lar. Apesar de importantes, essas tarefas criam um aumento na desigualdade de gênero enorme; Joana Mostafa, uma das coordenadoras do estudo