Jornal Correio Braziliense

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Estudo do IBGE mostra crescimento na expectativa de vida dos brasileiros para 72 anos e 10 meses

Estudo revela ainda uma queda na mortalidade infantil. Em compensação, a violência continua sendo o maior problema para os jovens

Pelas projeções, Iara Siqueira pode se considerar uma exceção. Quando ela nasceu no Rio Grande do Sul, em 1930, o brasileiro não passava dos 50 anos, em média. Hoje, prestes a completar 80, a senhora bem-humorada considera-se no %u201Clucro%u201D. Ela já ultrapassou a expectativa de vida das pessoas nascidas em 2008: 72 anos e 10 meses. É o maior índice registrado no país. Apesar disso, a projeção continua distante da longevidade de japoneses, franceses, italianos ou suíços, cuja esperança de viver supera os 81 anos. Mas, no que depender de entusiasmo, a gaúcha de Pelotas vai deixar os estrangeiros para trás. %u201CEstou gostando de ser velha, tenho encontrado muita gente atenciosa%u201D, afirma Iara. Tanto em sua casa, na cidade natal, quanto em Brasília, onde permanece metade do ano visitando os dois filhos, ela integra grupos de convivência. %u201CFaço crochê, enfeites natalinos, viajo bastante%u201D, conta. Em outra ponta, no nascimento, a situação brasileira também melhorou. A mortalidade infantil caiu, na última década, de 33,2 óbitos, a cada mil nascidos vivos, para 23,3, antes de a criança completar um ano. Se a infância está mais protegida, o mesmo não se pode dizer da juventude. Foram mais de um milhão de mortos pela violência entre 1998 e 2008 %u2014 uma média de 288 assassinatos diários %u2014, em que 58% das vítimas tinham entre 15 e 39 anos. Os dados fazem parte da Tábua de Mortalidade(1), um estudo anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem, referente ao ano passado. As informações atestam que a expectativa de vida dos homens brasileiros, em dez anos, passou de 65,9 para 69,1 anos. No caso das mulheres, o salto foi de 73,5 para 76,7 anos. A capixaba Horlanda Brunoro, moradora de Brasília, dá um show de animação do alto de seus 82 anos. %u201CO que eu chamo de terceira fase é a melhor da minha vida. Sou dona do meu nariz, visito meus parentes no Espírito Santo, tenho meu dinheiro, não dou satisfação a ninguém%u201D, conta Horlanda, viúva desde 1977. Com uma vitalidade de dar gosto, ela faz trabalhos de costura como voluntária de uma entidade assistencial e trabalha na distribuição de sopa aos pobres. O exemplo de Horlanda, segundo o médico Renato Maia, chefe do centro de medicina do idoso do Hospital Universitário de Brasília, tem se tornado cada vez mais comum. Mas há, ainda, muitos desafios, alerta o especialista. "Não podemos generalizar. Ainda há muitos idosos em condições ruins, sem acesso adequado à saúde. Mas, no geral, podemos dizer que tem havido uma melhora na qualidade de vida%u201D, destaca o especialista. Presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, José Luiz Telles chama atenção para o fato de a geração que atualmente está entrando na terceira idade %u2014 60 anos ou mais %u2014 ser formada por pessoas que tiveram mais acesso à educação. %u201CÉ gente informada sobre seus direitos. Além disso, o acesso à tecnologia em saúde também faz toda a diferença na longevidade", diz. Mortes Apesar de viver mais, uma quantidade assustadora de brasileiros morre todos os dias vítimas da violência. São 241 homens e 47 mulheres, em média, que perderam a vida diariamente na última década. Coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva destaca como possíveis soluções uma repressão maior e assistência em questões sociais. %u201CParecem fatores dissociados mas que, no caso dos jovens, fazem muita diferença.%u201D [SAIBAMAIS] 1 - Pesquisa A Tábua da Mortalidade é uma pesquisa importante do IBGE porque tem sido utilizada pelo Ministério da Previdência Social como um dos parâmetros do fator previdenciário das aposentadorias no Brasil. A divulgação anual foi determinada por um decreto presidencial. » Muda a fórmula da aposentadoria Vânia Cristino A nova tábua de expectativa de vida, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai elevar em pelo menos três meses o tempo de permanência no serviço para os trabalhadores que quiserem se aposentar por tempo de contribuição. Nesse tipo de aposentadoria incide o fator previdenciário, uma fórmula de cálculo do valor do benefício que leva em consideração a expectativa de vida dos brasileiros. Toda vez que a expectativa de vida aumenta, a tabela do fator é ajustada automaticamente, o que significa que, para obter o mesmo valor de aposentadoria esperado antes, será preciso aumentar o tempo de trabalho. De acordo com o IBGE, os brasileiros estão vivendo mais. A expectativa de vida passou de 72,6 anos em 2007 para 72,9 anos no ano passado. Para se ajustar a esse aumento de sobrevida, a Previdência Social divulgou ontem a nova tabela com os índices que compõem o fator previdenciário. O fator só incide no cálculo do valor da aposentadoria por tempo de contribuição. Ele não é utilizado na aposentadoria por invalidez e nem na aposentadoria por idade, a não ser para beneficiar o trabalhador. Pelas regras da aposentadoria por tempo de contribuição, se o fator for maior que 1, há acréscimo no valor do benefício em relação à média do salário de contribuição utilizada no cálculo. Se o fator for igual a 1, não há alteração. Só no caso de o fator ser menor do que 1 é que há redução do valor do benefício. Isso acontece nas aposentadorias solicitadas precocemente porque, em tese, os trabalhadores vão viver mais anos recebendo da Previdência Social. A Previdência explica que o novo fator será aplicado apenas às aposentadorias solicitadas a partir de 1º de dezembro. Os benefícios já concedidos não sofrerão qualquer alteração em função da divulgação da nova tábua de expectativa de vida do IBGE. A utilização dos dados do IBGE, como uma das variáveis da fórmula de cálculo do fator, foi determinada pela Lei nº 9.876, de 1999.