postado em 22/11/2009 09:12
São Paulo ; Um mês após a imensa confusão em que se envolveu na Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban) por usar um vestido curto, a estudante Geisy Vila Nova Arruda, 20 anos, vive como uma artista. Tem agenda cheia com emissoras de televisão de vários estados, mas o seu poder de mobilizar a multidão ainda carrega um revés: ela continua a ser hostilizada nas ruas de São Paulo.Na segunda-feira passada, Geisy foi ao Rio de Janeiro gravar uma participação no programa Casseta & Planeta, da TV Globo. No aeroporto, foi xingada, conforme relata um de seus advogados, Vitor Kim. ;Muita gente ainda se incomoda com as minhas roupas curtas;, ressalta a moça.
Na quarta-feira, o Correio convidou a estudante para dar uma volta na Rua Oscar Freire, uma das mais tradicionais de São Paulo. Geisy aceitou, mas o advogado Nehemias Domingos de Melo desaconselhou. Segundo ele, muita gente pensa que a aquela reação violenta é restrita aos estudantes da Uniban. Não é verdade, ele argumenta. Quando sai pelas ruas, teme reações negativas. ;A gente só permite que ela saia acompanhada de segurança;, ressaltou Nehemias.
Celebridade polêmica, a estudante não anda mais de ônibus. Como não tem dinheiro para pegar táxi, ela depende da caridade alheia. Uma corrida da sua casa até o escritório dos seus advogados, por exemplo, sai R$ 80. ;O meu cabeleireiro pagou uma vez. Mas, na maioria das vezes, meus advogados pagam e pego carona nos carros de reportagem;, conta.
Já na quinta-feira, Geisy aceitou passear com uma equipe do Correio pelo centro de São Paulo. Caminhou 200 metros da Praça João Mendes até o Largo da Sé no horário do almoço, quando o perímetro está abarrotado de gente apressada. Atravessou faixa de pedestres de ruas movimentadas, incendiou a massa masculina e despertou ódio em mulheres. ;Não estou nem aí;, disse, rindo.
"Pego carona nos carros de reportagem"
Geisy, sobre a falta de dinheiro para tomar um táxi
Três perguntas para Geisy Vila Nova Arruda
A estudante Geisy Arruda diz estar consciente de que essa fama é passageira e que, logo mais, voltará a ter a vida simples que levava no interior de São Paulo.
O que você vai fazer quando a fama acabar?
Voltarei a ter uma vida normal. Eu tenho consciência de que um dia isso tudo vai acabar. Ninguém vai me ligar para bater fotos e dar entrevistas. Por isso, larguei tudo para viver cada minuto da fama. Me sinto poderosa.
O que você achou do protesto dos estudantes que tiraram a roupa na UnB?
Foi a homenagem que mais me tocou até agora. Fiquei orgulhosa e muito feliz. Quando vi, comecei a chorar feito uma criança.
Pensa em voltar à Uniban com vestidos curtos? Tem medo de sair nas ruas?
Não quero mais voltar a essa universidade. A não ser que eu tenha seguranças particulares. Sou muito moderna para frequentar aquele ambiente. Às vezes, quando fica um aglomerado de pessoas, fico com medo porque começam a ter reações de hostilidade. Na multidão, as pessoas criam coragem para me xingar. Mas também tenho recebido muito carinho. Outro dia mesmo, uma senhora disse para eu não usar roupas curtas. Respondi a ela que, se abrir mão desse direito, eu não serei mais eu.
Vestido famoso custou R$ 50
Durante o passeio da estudante Geisy Arruda pelas ruas paulistanas, um grupo formado por mulheres jovens, de meia-idade e mais velhas condenava a atitude da moça. Dizia que faltava respeito em sua conduta e avaliava que não era correto a estudante se aproveitar da fama repentina para aparecer. ;Ela está em todos os programas. Aposto que não está nem estudando nem trabalhando;, arriscou a vendedora Cátia Gonçalves.
Cátia acertou em cheio. Desde que protagonizou a confusão na Uniban, Geisy não pegou mais nos cadernos nem deu expediente no trabalho que tinha perto de sua casa, onde ganhava R$ 400 mensais. Sua vida atualmente se resume a uma agenda em que só há espaço para salão de beleza, programas de televisão e muita entrevista. Só na semana passada, ela passou por 12 programas de todas as tevês abertas do Brasil.;Não procurei por isso. Aconteceu e estou amando;, ressalta.
A vida de celebridade, segundo Geisy e seus advogados, não lhe rendeu nem um centavo sequer. ;Eu vou pelo prazer de falar da minha vida e contar a história da Uniban;, esclarece. Enquanto concedia entrevista ao Correio, duas vans, uma da Rede TV! e outra do SBT, aguardavam a estudante. ;Manda avisar que vou primeiro ao programa do Ratinho e só depois vou ao TV Fama;, ordenou ela a um advogado. ;Meu sonho mesmo é ir ao Jô Soares.;
O vestido pivô da confusão foi comprado numa liquidação no Shopping Plaza Paulista, no bairro da Saúde, por R$ 50, há dois anos. ;É um vestido velho e batido, mas foi com ele que alcancei a fama.;
"Não procurei por isso. Aconteceu e estou amando"
Geisy, sobre a agenda lotada