A partir dos 40 anos ou só depois dos 50? A cada dois anos ou anualmente? Depois que os médicos da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos recomendaram a realização da mamografia (1) preventiva depois dos 50, com intervalo bianual entre os exames, a polêmica foi instalada. A controvérsia norte-americana chega ao Brasil às vésperas do Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado na próxima sexta. No país de Barack Obama, o governo se apressou em dizer que a nova orientação não vai alterar a política de saúde, que prevê exame a partir dos 40 anos.
No Brasil, a cartilha do Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda o mesmo que a Força-Tarefa americana. Mas grande parte dos médicos e a Sociedade Brasileira de Mastologia discordam e batem o pé em defender o rastreamento do câncer por mamografia anualmente e a partir dos 40 anos. Em 2007, segundo dados do Inca, a doença tirou a vida de 2.741 mulheres com idade entre 50 e 59 anos, no Brasil. Número não muito maior do que as mortes ocorridas na faixa dos 40 a 49 anos: 2.051.
Enquanto o Inca usa os efeitos provocados pelos exames confirmatórios e o estresse ;desnecessário; causado pelos casos de falsos positivos, médicos se agarram à chance de salvar mais vidas para não seguir a diretriz oficial. E se apoiam, inclusive, na Lei Federal n; 11.664/08, que entrou em vigor em abril deste ano e garante a realização do exame a todas as mulheres, a partir dos 40 anos. Alguns médicos chegam a defender o exame preventivo ainda mais cedo: aos 35. Usam as experiências em consultório, onde percebem um aumento de mulheres jovens com câncer de mama, para justificar a antecipação.
Redução de custos
Estima-se que quase 50 mil casos da enfermidade surgiram no país em 2008. O que está em jogo nesta discussão é a prescrição da mamografia para mulheres que não apresentam nenhum sintoma, como nódulos paupáveis, e nem fazem parte do grupo de risco para desenvolver a doença. Nos Estados Unidos, onde a polêmica começou, um médico resumiu o pensamento de muitos especialistas da área: ;A ideia de que se pode salvar apenas uma vida em meio a quase 2 mil mulheres examinadas não significa nada até essa única mulher salva ser você;, disse o diretor de ginecologia do Hospital Roosevelt, Jacques Moritz, em entrevista ao jornal americano The New York Times.
Na avaliação da médica radiologista Janice Lamas, que atua desde 1977 no diagnóstico de câncer, a reformulação do sistema de saúde americano, proposta pelo presidente Obama, implicará na redução de custos. ;Isso inclui, entre outras medidas, limitar os procedimentos mais complexos desencadeados pela detecção de achados anormais nos exames mamográficos de rastreamento;, afirma Janice, proprietária de uma das clínicas de radiologia mais experientes de Brasília.
Segundo a médica, que realiza, em média, 60 mamografias por dia, o argumento de que a investigação por meio de mamografia em mulheres acima dos 40 anos contribui para a detecção de tumores que nunca poderiam trazer efeitos sobre a saúde da mulher ;vai contra o atual conhecimento da biologia tumoral.;
1 - Método eficaz
Realizada em aparelhos específicos para avaliação das mamas, a mamografia é um tipo de radiografia especial que detecta em homens e mulheres o desenvolvimento de câncer. O procedimento é considerado a melhor oportunidade de identificar precocemente qualquer alteração nas mamas antes até que o paciente ou médico possam notá-la ou apalpá-la. Segundo o FDA, órgão norte-americano de vigilância sanitária, o exame pode detectar um câncer de mama até dois anos antes de ele ser palpável.
Ouça trechos da entrevista com a médica Janice Lamas: