Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário estão distantes dos jovens. Esta é a percepção de quase 2 mil brasileiros entre 15 e 29 anos que participaram da I Conferência Nacional de Políticas Públicas para a Juventude, que aconteceu em Brasília no ano passado. A pesquisa Quebrando mitos: juventude, participação e políticas, das sociólogas Mary Castro e Miriam Abramovay, traça um perfil dos jovens engajados e mostra que, além de criticar a politica atual, eles estão dispostos a mudá-la. Um dos motivos para tanta descrença ; além de casos de corrupção e das práticas consideradas antigas, como o coronelismo ; é a demora na aprovação das propostas de interesse dos jovens no Congresso.
Três projetos para fortalecimento das políticas públicas estão parados. A PEC da Juventude altera o texto constitucional e inclui o jovem no capítulo que trata dos direitos e garantias fundamentais. Aprovada na Câmara, a proposta aguarda a votação no Senado, onde a pauta está travada por medidas provisórias. O Plano Nacional da Juventude é outro que dorme. Depois de uma Comissão Especial discutir o assunto, o projeto que estabelece metas para a criação das políticas nos próximos 10 anos também não foi analisado na Câmara, assim como o Estatuto da Juventude. O grupo também cobra a criação do Fundo Nacional da Juventude e de órgãos, com orçamento próprio, em todos os municípios e estados. Atualmente, a Secretaria Nacional da Juventude está ligada à Presidência.
O secretário-executivo do PMDB Gabriel Souza, de 25 anos, acredita que a credibilidade das instituições se dá quando elas conseguem se aproximar da vida das pessoas. O estudante de medicina veterinária diz que tenta convencer os jovens de que é preciso ocupar essas espaços tradicionais para que haja uma transformação. ;O Legislativo não consegue ser prático. A agenda política brasileira é muito devagar. Tudo para acompanhar o novo escândalo;, critica o jovem.
A história da coordenadora da Secretaria Jovem da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Maria Elenice Anastácio, não é muito diferente. ;Achava que sindicato era coisa de gente velha e que só estava interessada em Previdência. Fui me interessando e percebi que trabalhamos pelo bem de uma classe;, diz a jovem do interior do Rio Grande do Norte. Atualmente, a principal bandeira da Secretaria é a defesa de políticas direcionadas para o jovem do campo. ;Muita gente resolveu ficar e precisa de incentivo do governo;, diz.
Nem egoístas, nem alienados
Para a coordenadora Miriam Abramovay, a pesquisa derrubou três mitos importantes. O primeiro: de que o jovem é alienado. O segundo: de que ele é egoísta e consumista. E, por último: de que ele não se preoucupa com o próximo. ;O diálogo entre jovens e adultos é muito difícil. Precisamos olhar para eles com mais atenção porque a população brasileira está envelhecendo e nunca teremos tantos jovens como agora no Brasil;, afirma.
Foram aplicados 1854 questionários com representantes de entidades diversas, como a Central Única das Favelas (CUFA) e a União da Juventude Socialista, o movimento negro, LGBT, movimentos feministas, quilombolas, jovens sindicalistas, jovens da área rural, comunidades indígenas, religiosos, hip-hop, entre outros. As pesquisadoras traçaram um perfil sociodemográfico e político-institucional desses jovens, que inclui a percepção deles sobre temas como maioridade penal, união civil entre pessoas do mesmo sexo, legalização do aborto, segurança pública, as percepções sobre problemas do Brasil, as bandeiras para políticas de juventude em diversas áreas como trabalho, educação, diversidade, além das representações sobre participação na vida política do país.
O objetivo do trabalho é aproximar o governo e a sociedade como forma de obter informações para consolidar uma política nacional para a juventude. A pesquisa é resultado de parceria entre a Secretaria Nacional de Juventude, por meio de seu Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), e a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (RITLA). (AR)