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MEC quer explicações da Uniban sobre expulsão da aluna que foi ameaçada por colegas

São Paulo - A Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban) decidiu expulsar a estudante de turismo Geisy Arruda, de 20 anos, que foi perseguida, encurralada e xingada por um grande grupo de alunos nos corredores da instituição, no campus de São Bernardo, porque usava um vestido curto. Ela saiu do local escoltada pela polícia O tumulto ocorreu no dia 22 de outubro e ganhou repercussão, gerando debates sobre intolerância na sociedade, após vídeos terem sido colocados do Youtube. "Com o término da sindicância e da apuração dos fatos, a universidade decidiu desligar Geisy de seu quadro de estudantes por entender que ela foi responsável, que provocou a situação com sua atitude", afirmou à reportagem o assessor jurídico da Uniban, Décio Lencioni Machado. "Nunca tinha acontecido isso e outras meninas usam vestidos e saias curtas. Ocorreu com ela por causa de sua atitude em querer aparecer, desfilar na rampa, tirar fotos e passar pelas salas", justifica.

[SAIBAMAIS]A sindicância da instituição decidiu também que suspenderá osestudantes envolvidos no tumulto e advertirá funcionários que também foram identificados. Em comunicado, a Uniban afirma que cerca de 600 estudantes se aglomeraram em torno de Geisy na ocasião, "o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar". Geisy, que foi informada sobre a decisão pela reportagem, contou que vai recorrer à Justiça. "A Uniban vai comprar uma briga maior ainda", disse ela. "Eu não sou um problema. Os alunos é que agiram como bichos", afirmou a jovem, que trabalha em um mercado perto de sua casa.

Explicações

A secretária de Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dallari, disse ontem que a instituição será notificada oficialmente esta semana, dentro de um processo de supervisão especial que pode ser aberto a qualquer momento quando há denúncias. "Uma universidade tem uma obrigação educacional que precisa estar presente em todos os momentos. É um local não apenas de convivência, mas de formação de valores. Esse caso me parece ter um forte caráter de gênero", afirmou Maria Paula. "O MEC tem o dever de pedir explicações. Seria a mesma coisa em um caso de racismo".

Ela diz que duas coisas chamam a atenção na decisão tomada pela instituição. A primeira é a qualificação da atitude da aluna, que revela preconceito de gênero. O segundo ponto que causa estranheza no ministério é o fato de haver diferentes tipos de punição: a expulsão de Geisy, vítima das agressões, e apenas uma suspensão dos estudantes que provocaram o tumulto. "Diante do mesmo problema, há duas punições de gravidade diferente. Por que não houve então igual tratamento, expulsão ou suspensão para ambos", questiona a secretária.