O risco de ver os principais reservatórios de água do país transbordarem motivou a Agência Nacional de Águas (ANA) a deixar a Secretaria Nacional de Defesa Civil em estado de alerta para a necessidade de desocupar áreas sob risco de inundações. Devido ao aumento das chuvas este ano, o nível da maior parte dos reservatórios é o mais alto dos últimos 10 anos ; e, em alguns casos, está perto do limite. Como as previsões meteorológicas apontam para uma elevação no volume pluviométrico nos próximos meses, o risco de comunidades ribeirinhas ficarem debaixo d;água é iminente.
;Tendo em vista a virada do ano com chuvas de grande porte, estamos preocupados em alertar a sociedade sobre esse perigo que se avizinha;, destacou ontem o diretor-presidente da ANA, José Machado. ;O risco (de transbordamento) é alto;, acrescentou Benedito Braga, diretor do órgão. A agência inaugurou ontem uma sala para monitoramento 24 horas. Em caso de problemas, a Defesa Civil será acionada. ;A primeira medida necessária é desocupar as áreas, mas vai depender do momento;, afirmou Alessandro Castro, engenheiro da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
O sinal amarelo está aceso tanto em açudes do Nordeste, usados para abastecimento de água, quanto nos reservatórios das hidrelétricas, mais concentrados no Sul e no Sudeste. Dos 54 principais reservatórios nordestinos, 21 estão com mais de 95% da capacidade de água. E dos 33 tanques do setor hiderelétrico, 22 estão com mais de 70% do limite preenchidos. ;Estamos com os reservatórios cheios, os solos saturados e temos as pré-condições para acontecer um volume mais intenso de chuva e escoamento desses reservatórios com transbordamento não controlado;, resumiu o superintendente de Usos Múltiplos da ANA, Joaquim Gondim.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê chuvas acima da média no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e dentro ou abaixo da média no Nordeste e Norte. Mas, enquanto os reservatórios hidrelétricos podem evitar transbordamentos, apenas três açudes nordestinos possuem comportas para esvaziamento: os de Castanhão e Banabuiú, no Ceará, e o de Engenheiro Ávidos, na Paraíba. O açude Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte, não tem esse mecanismo e já chegou a 94,22% da capacidade. No mesmo período do ano passado, ele estava com 92,72% e, após as chuvas, provocou inundações que devastaram áreas de fruticultura e de criação de camarões no vale do Açu.
Nos reservatórios do setor elétrico, a situação é preocupante principalmente na bacia do Rio Paraíba do Sul, na Região Sudeste, onde o maior tanque está com 83% da capacidade; e na Região Sul. No reservatório de Passo Fundo, na bacia do Rio Uruguai, o nível chegou a 98,61%. Apesar disso, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirma que é possível tomar medidas para evitar inundações. ;Nesses reservatórios em que há comporta, podemos controlar a vazão e fazemos isso todos os anos. Este ano, estamos apenas antecipando. Mas é improvável haver alagamento em áreas urbanas.;
Para saber mais
Fenômeno meteorológico
O maior volume de chuvas registrado este ano é explicado, segundo especialistas, pela presença do El Niño sobre a região do Pacífico Equatorial. O fenômeno, considerado pelos meteorologistas como uma anomalia, é a consequência do aquecimento das águas do oceano, o que provoca deslocamento de ar quente e úmido para a atmosfera e favorece a formação de áreas de instabilidade. ;O resultado disso é a intensificação das chuvas sobre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste;, explica a meteorologista Lilian Carvalho, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
No ano passado, o volume de chuvas nessas regiões foi menor devido à presença do fenômeno La Niña, que ocorre justamente na situação inversa, quando há resfriamento das águas do oceano. ;Isso provoca redução das chuvas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e maior volume de precipitações no Norte e Nordeste;, diz a especialista. O fenômeno El Niño não tem ciclo regular e pode persistir por até três anos. A previsão do Inmet é de que este período chuvoso, que se encerra no ano que vem, será acima da média no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e dentro ou abaixo da média para Norte e Nordeste.