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Professores de todo o país e 60 nações participam de concurso para premiar criatividade no ensino

De Norte a Sul do país, educadores mostram que é possível, mesmo com poucos recursos, fazer a diferença na hora de ensinar. E foi com um olhar voltado para a criatividade que quatro professores venceram a etapa nacional em três categorias, ficaram entre os primeiros na América do Sul e concorrem, na próxima sexta-feira, ao Prêmio do Fórum Mundial de Educadores Inovadores, promovido pela Microsoft em Salvador (BA).

Uma comissão julgadora selecionará os 12 melhores trabalhos. Enquanto isso, os participantes trocam experiências em palestras e debates. Na tarde de ontem, os representantes de Bahia, Rio Grande do Sul, Tocantins e Rio de Janeiro, além de outros 250 educadores de 60 países, apresentaram seus projetos em uma espécie de feira de ciências, com vídeos, explicações, vestes típicas e distribuição de brindes.

O estande do professor de física Alex Vieira, do Colégio Estadual Luiz Pinto Carvalho, da capital baiana, chamou a atenção dos participantes. As maquetes que mostram a formação de um condomínio fechado, com direito a iluminação de verdade, marcam o ápice do projeto Fontes de energia, em que os alunos do ensino médio de uma região carente de Salvador tiveram que encontrar soluções de fontes de energia. A ideia surgiu em 2006 e começou com estudos sobre eletricidade, mas em pouco tempo ganhou interdisciplinariedade. Foi possível unir conhecimentos da química, biologia, história e geografia para planejar os impactos de um condomínio para a comunidade.

Além dos protótipos, os alunos criaram blogs para publicar as pesquisas realizadas e popularizar a ciência. O professor ainda utiliza sites de relacionamento para trocar informações com os estudantes. ;No início, tive que ensinar a eles o que era e-mail. Hoje, eles já sabem tudo e até nos ensinam as coisas;, comenta Vieira. O trabalho empolgou tanto os jovens que muitos já participam de olimpíadas de matemática e física.

A tecnologia também foi utilizada de forma inusitada pelo professor de matemática Guilherme Erwin Hartung, do Colégio Estadual Embaixador José Bonifácio, de Petrópolis (RJ). Ele desenvolveu, dentro da escola, uma empresa produtora de jogos educativos de computador. Quem põe a mão na massa são os alunos, que se dividem em grupos para selecionar a arte, fazer a programação e divulgação. ;Sei que eles adoram jogos e queria dar um jeito de usar essas ferramentas a favor da pedagogia;, explica Hartung.

Em Caxias do Sul (RS), a professora Terezinha Bernardete, especialista em informática na promoção de aprendizagem, aplica, desde 2007, o projeto A construção do conhecer em ambiente digital. Participam do trabalho 216 alunas do ensino médio do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza. Reunidas em grupos, elas confeccionaram 61 sites sobre os mais diversos temas, como água, reforma ortográfica, lixo e drogas.

Segundo Terezinha, a atividade forma alunos questionadores, colaborativos, motivados para a aprendizagem, presentes no espaço virtual e voltados para o mundo dentro da escola. Os produtos foram trabalhados com alunos do ensino infantil. ;As crianças gostam de atividades lúdicas, com imagem e som. Como elas vivem isso fora da escola, a instituição tem que oferecer de forma educativa.;

Solução ambiental
Distante 380 quilômetros da capital Palmas, uma pequena área rural de Tocantins ganhou notoriedade com a ideia inovadora do professor Lucrécio Filho de Oliveira, ex-aluno e coordenador de educação ambiental da Escola de Canuanã. Mantida pela Fundação Bradesco, a instituição abriga mais de 900 alunos no regime de internato. Ao ver o problema da falta de coleta de lixo em fazendas (que leva à contaminação do solo, da água e até do ar, com as queimadas), o educador resolveu buscar com os alunos soluções para um fim ecologicamente correto para o lixo.

Depois de muita pesquisa na internet, o grupo chegou ao projeto Barreiro de fruticultura doméstica em miniaterros sanitários controlados. Cava-se um buraco na terra, faz-se a coleta seletiva e cobre-se a vala com camadas intercaladas de lixo e terra, sobrepostas por restos de folhas e esterco. Finalmente, planta-se uma árvore. No caso, uma bananeira.

;Oferecemos um curso técnico para mostrar aos alunos como tornar a propriedade autosustentável, com consumo da banana ou produção de doces, farinha;, observa Oliveira. Mais de 300 famílias já foram capacitadas. ;O que torna nosso projeto inovador é que damos uma solução ao que antes não existia.;

"No início, tive que ensinar a eles o que era e-mail. Hoje, eles já sabem tudo e até nos ensinam as coisas;

Alex Vieira, professor de física em Salvador