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Pesquisas mostram que o diretor é peça-chave para uma boa escola

Em instituições bem administradas, os alunos aprendem mais e são melhores os resultados em avaliações do governo. Para isso, ele deve ter boa formação e preocupação com metas

Formação de gestores, capacidade do diretor de integrar as áreas de atuação no dia a dia, atenção dedicada às metas de aprendizagem e habilidade para criar um clima escolar favorável. São esses os quatro segredos de uma escola bem sucedida, de acordo com a pesquisa Práticas comuns à gestão escolar eficaz, realizada pela Fundação Getulio Vargas em parceria com a Fundação Victor Civita. O estudo comparou 10 escolas de quatro municípios de São Paulo, entre abril e setembro deste ano, e revelou que as escolas que apresentam uma gestão eficaz atingem melhores resultados na aprendizagem de seus alunos. Para os pesquisadores, as características dessas escolas podem ser adotadas por outras e pensadas como políticas públicas para a educação brasileira.

De acordo com o estudo, as escolas com melhores resultados apresentam corpo de gestores mais qualificado, com curso de especialização em gestão e administração escolar e pedagógica. Quanto maior o nível de especialização dos diretores, melhores os resultados da escola. Os dirigentes eficazes também conseguem exercer uma liderança que integra as oito áreas da escola: as gestões pedagógica, administrativa, financeira, de infraestrutura, da comunidade, das relações pessoais, dos resultados escolares e do relacionamento com a rede de ensino do município ou estado. Além disso, eles valorizam as avaliações externas como ferramentas importantes para definir metas.

Gestor Wilson de Sousa Filho, com os alunos Paulo Victor da Silva e João Marcos Alves: esforço em criar um ambiente agradável" />Ao analisar a pesquisa, o diretor do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte, Wilson de Sousa Filho, destaca dois pontos como fundamentais para obter bons resultados: os exames externo e o clima na escola. ;Os indicadores são muito importantes porque provam se o que estamos fazendo está certo ou errado. E se estiver errado temos de buscar consertar aqui dentro;, analisa. A escola teve 29 alunos aprovados no último PAS, o programa de seleção da Universidade de Brasília (UnB), e ficou entre as quatro melhores da rede pública do DF no Enem, o exame do Ministério da Educação, e no Siade, a avaliação feita pelo GDF. Entre as características que contribuem para o sucesso da escola está o comprometimento dos alunos com o estudo. ;Aqui a gente não tem muito problema com indisciplina. Eu sou um paizão, mas também expulso aluno se for preciso;, garante Sousa. ;Eles têm o manual do aluno e sabem quais são as normas. Nosso diálogo é muito bom.;

Segundo a pesquisa da FGV, para atingir um clima agradável na escola, os diretores precisam ser organizados, comprometer a comunidade escolar com a aprendizagem dos alunos e estabelecer regras claras.

A questão do ambiente escolar também ficou clara na pesquisa Melhores práticas em escolas e redes de ensino médio em quatro estados brasileiros, realizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com o Ministério da Educação. O estudo, que ainda está em andamento, avalia 35 escolas do Ceará, Acre, São Paulo e Paraná com resultados acima da média do estado. E já apontou algumas características comuns às instituições, como normas de convivência claras, aceitas e incorporadas à dinâmica da escola.

Além disso, o estudo destaca a importância da expectativa positiva em relação ao desempenho dos estudantes. Nas escolas pesquisadas, 85% dos gestores afirmaram que a maior parte dos alunos iria ser aprovada no vestibular.

Para o economista sênior de educação do BID, Carlos Alberto Herrán, as pesquisas devem contribuir para formular políticas públicas que valorizem a gestão escolar como instrumento para melhorar a qualidade do ensino no país. ;Antes de estabelecer políticas públicas, é preciso aceitar que o resultado depende do que acontece dentro da escola. As políticas devem fazer efeito na gestão e na sala de aula;, ressalta.

"Os indicadores são muito importantes porque provam se o que estamos fazendo está certo ou errado. E se estiver errado, temos de buscar consertar aqui dentro"

Wilson de Sousa Filho, diretor de escola



Como obter bons resultados
Três pesquisas recentes mostram como funcionam escolas com boa avaliação e alunos bem sucedidos.

Pesquisa: Práticas comuns à gestão escolar eficaz (FGV)
Os quatro segredos das escolas eficazes:
Formação dos gestores
Capacidade de integração das áreas de atuação no dia a dia
Atenção dedicada às metas de aprendizagem
Clima escolar positivo

Pesquisa: Melhores práticas em escolas e redes de ensino médio em quatro estados brasileiros (BID e MEC)
Aprendizagem como foco central da escola
Expectativas positivas de desempenho dos alunos
Elevado senso de responsabilidade profissional dos docentes com o sucesso de seus alunos
Trabalho em equipe e liderança reconhecidos
Preservação e otimização do tempo escolar
Normas de convivência clara, aceitas e incorporadas à dinâmica da escola
Clima harmonioso: a escola como um lugar agradável para ensinar e aprender

Pesquisa: Quem é e o que pensa o gestor escolar (Ibope)

80% estudaram em escola pública no ensino fundamental

73% fizeram o ensino médio em escola pública

53% concluíram o curso de graduação em instituição particular

93% avaliam como boa ou excelente a formação inicial

28% avaliam que a formação não os preparou para a gestão da escola


Desconhecimento sobre avaliações

Embora o estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) ressalte a importância das avaliações externas para a gestão eficaz, uma boa parte dos diretores brasileiros desconhece os resultados da própria escola. A pesquisa Quem é e o que pensa o gestor escolar, realizada pelo Ibope a pedido da Fundação Victor Civita, entrevistou 400 gestores e revelou que 36% deles não sabem a nota recebida por sua instituição no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o indicador da qualidade do ensino fundamental traçado pelo MEC.

Para Mauro Morellato, gerente de projetos da Fundação Victor Civita, o desconhecimento do Ideb pode resultar em prejuízos para o gestor. ;Isso revela que essa parte da amostra pesquisada não vai conseguir traçar nenhum plano de ação e nem avaliar o trabalho que está fazendo;, explica.

[SAIBAMAIS]Quanto à formação desses profissionais, a pesquisa revelou que a maioria fez ensino fundamental (80%) e médio (73%) em escola pública, mas a graduação em instituição particular (53%). E ainda que, embora a maioria dos entrevistados (93%) avalie sua formação inicial como boa ou excelente, uma parte deles (28%) acha que essa formação não o preparou para atuar como gestor da escola.

Os diretores acreditam que a eleição direta é a melhor forma para chegar ao cargo. Isso porque, segundo os entrevistados que forneceram essa resposta (49%), a eleição aumenta o respeito que a comunidade tem em relação aos gestores. Os concursos aparecem em segundo lugar, escolhidos por 35% dos entrevistados, que alegaram ser essa a melhor forma de avaliar o conhecimento técnico do profissional.

No dia a dia do trabalho, a maioria dos gestores acha que gasta muito tempo com questões burocráticas, podendo se dedicar pouco a atividades como planejamento, reuniões, relatórios, acompanhamento mais próximo de alunos e atividade de apoio à aprendizagem. Mas quando questionados sobre as características necessárias para um bom gestor, quase não foram citadas as opções que poderiam liberá-los das atividades burocráticas, como saber delegar, incentivar o trabalho em equipe e compartilhar a administração.

Para Mauro Morelato, o Brasil não está muito longe de conseguir ampliar as práticas eficazes de gestão para mais escolas. ;A gente está no caminho. À medida que conseguimos traçar esse perfil e identificar os pontos a serem melhorados, podemos estimular uma gestão profissionalizada;.