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Exposição no Paraná mostra quadros, esculturas e outros objetos feitos de restos mortais

Utilizada pelos gregos desde 1.000 a.C., a cremação ganhou novas versões no Brasil. Inspirado em técnicas já adotadas nos Estados Unidos e na Suíça, um crematório de Curitiba decidiu perpetuar a presença dos entes queridos em obras de arte e diamantes realizados a partir das cinzas de cadáveres. Nesta segunda (2/11), Dia de Finados, feriado dedicado a homenagear os mortos, um estabelecimento da capital paranaense vai abrir as portas para uma exposição artística com 11 telas, quadros e esculturas construídos a partir de restos mortais de 10 pessoas. Polêmico e visto por muitos como excêntrico, o serviço foi rejeitado por muitas famílias. As que aceitaram, porém, elogiaram. Com a justificativa de renovar a vida, independentemente dos conceitos científicos ou religiosos, o Crematório Vaticano convidou sete artistas plásticos para converter as cinzas dos mortos em obras de arte. Os trabalhos foram idealizados a partir de atividades, características e informações dos entes falecidos, transmitidas pelos familiares aos autores. "Nosso principal objetivo não é vender um serviço, mas incentivar a cremação e mostrar que o apego físico pode ser mantido com as cinzas ou uma obra de arte, que tem a missão de homenagear e personalizar o que a pessoa mais gostava de fazer, como um hobby ou profissão", afirma a diretora do crematório, Mylena Cooper. A saudade do ex-marido foi uma das razões que levou a pensionista Maria Claudina Angelotti, 74 anos, a autorizar a transfiguração das cinzas do marido Francisco em uma tela com rosas. "Ele sempre me presenteava com flores, por isso pedi para colocá-las no quadro", lembra. Maria ainda faz tratamento para se recuperar da perda do marido, falecido em 17 de dezembro de 2007, vítima de câncer na medula. "Foi rápido. A doença foi descoberta em julho daquele ano", observa a paulista, que há sete anos trocou São Paulo por Curitiba. A obra tem destino certo: a parede do quarto que serve para encostar a cadeira onde Francisco esperava Claudina se arrumar. "A família ainda não sabe que vou levar um pedaço dele para casa. Contei somente a alguns amigos mais próximos. Todos gostaram", salienta ela, que ficou casada com Francisco por 32 anos. Honras musicais Um jovem que gostava de música e tinha o sonho de ser pai teve suas cinzas utilizadas como matéria-prima para uma escultura prata com detalhes dourados. Grávida e rodeada por notas musicais, a mulher retratada na obra de arte é de autoria do escultor Tony Reis, que produziu outros dois trabalhos, um de cunho religioso e outro que retratou amores e desejos do falecido. Já a artista plástica Graciela Scandurra produziu uma escultura em forma de flor, em que as cinzas estarão na raiz da planta. "A morte é uma transformação presente na natureza", explica. Além de Tony e Graciela, também integram a exposição das obras de arte que a partir de cinzas de pessoas falecidas os artistas Bianca Oliari Macoppi, João Carlos Bohm, João Moro, Marina S. V. Gosch, e Marllon Christian Stgemann do Amaral. Todos fizeram quadros. Os 11 trabalhos - com custo médio unitário de R$ 400 - serão doados aos familiares que concordaram em participar da iniciativa. "CAlguns parentes foram contra e não permitiram que utilizássemos as cinzas para transformá-las em arte. É polêmico e houve críticas, mas quem aceitou, gostou da ideia", diz Mylena Cooper, diretora do crematório. Saudade lapidada A pensionista Leroy Gaspar da Silva, 73 anos, não se importou em pagar mais de R$ 12 mil para ver a cinzas do marido Jorge transformadas num diamante de 0,25 quilate. Pioneira no Brasil a solicitar o serviço - elaborado por um laboratório suíço que mantém um convênio com o Crematório Vaticano - Leroy diz que, acima do dinheiro, o que importa é não esquecer de quem se foi. "No começo, quando o corpo está enterrado, todos visitam. Depois, o lugar vai ficando abandonado. Queria fazer alguma coisa para que o velho ficasse perto da gente. Aí mandei cremar o corpo e fazer o diamante", afirma ela. Mesmo com todo o amor que sente pelo companheiro, representado agora na pedra preciosa, Leroy não ficou com o diamante. Presenteou a filha, Ligia, com a joia. "Apesar de não querer que minha mãe morra tão cedo, também pretendo transformá-la em diamante", relata Ligia. Para a fabricação da pedra preciosa, detentora de certificação internacional de qualidade que atesta e comprova o uso exclusivo de cinzas para a sua produção, foram necessários 500g dos cerca de dois quilos extraídos dos ossos de Jorge, militar da reserva morto em 1994, aos 61 anos, em virtude de problemas no coração.