Jornal Correio Braziliense

Brasil

Polícia Federal prende 62 pessoas e interrompe rotas por onde passavam 10 toneladas de cocaína anualmente

Edson Luiz
Daniel Antunes
Maria Clara Prates

Duas operações da Polícia Federal realizadas ontem prenderam 62 pessoas e desarticularam duas importantes rotas do narcotráfico internacional, por onde passavam cerca de 10 toneladas de cocaína anualmente. Os grupos eram coordenados por brasileiros que traziam a droga da Colômbia, da Bolívia e do Paraguai. Entre os investigados estava Leonardo Dias Mendonça, que está preso no Centro Penitenciário de Atividades Industriais do Estado de Goiás (Cepaigo), condenado a 38 anos de reclusão. Ele realizava as transações por meio de celular, dentro do próprio presídio. Em uma das ações da PF, foram realizadas busca e apreensão na residência de um funcionário da Justiça do Distrito Federal.

As investigações que resultaram na Operação Pérola, desencadeada a partir de Goiânia, começaram em 2006, quando foram apreendidos 300 quilos de cocaína em Fortaleza. A droga era do colombiano Juan Carlos da Silva Carvalho, que também deu suporte para o barco Saballa, que levava 200 quilos do pó para a Europa. A embarcação foi apreendida em 2008, na Costa da África, pela marinha francesa, a pedido da polícia inglesa. A partir daí, a Polícia Federal identificou que o grupo tinha ligação com Dias Mendonça, com o uruguaio Oscar Daniel Duran Placência e os árabes Elias Rasse e Ossen Makki.

A cocaína era trazida da Colômbia em pequenos aviões até o Pará e, em seguida, era enviada para o Suriname, de onde embarcava em navegações para os Estados Unidos e a Europa. Parte dos carregamentos permanecia no Brasil e era distribuída no Sudeste e Centro-Oeste do país. Dias Mendonça ficou conhecido internacionalmente por sua ligação com o traficante fluminense Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Os dois negociavam a compra da droga com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) até 2002, quando Dias Mendonça foi preso. A Operação Pérola prendeu 25 pessoas em Goiás, Distrito Federal, Pará, Mato Grosso, Ceará, Tocantins e Minas Gerais.

Triângulo
A Polícia Federal também prendeu outras 37 pessoas durante a Operação Triângulo, realizada em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia. O grupo é acusado de negociar a compra de cocaína e maconha no Paraguai, Bolívia e Colômbia, que chegava ao Brasil por meio de um sofisticado esquema de logística de transporte. O Triângulo Mineiro é considerado rota do tráfico internacional e quatro organizações criminosas foram identificadas no decorrer das investigações.

Num bairro nobre de Ituiutaba (MG) também foi preso um dos homens apontados como chefe do grupo, que não teve o nome revelado. Ele já havia sido detido por tráfico de drogas em 2005 e respondia ao processo em liberdade. Um advogado foi preso em Anápolis (GO).

Um dos suspeito de envolvimento com a organização criminosa é José de Deus Andrade, investigado por tráfico de drogas desde a década de 1990. Em 1999, José foi preso por fazer parte da quadrilha de Youssef Hahal, o Turcão, traficante com presença muito forte na divisa dos estados de Minas e Goiás, além de estreitas relações com os cartéis bolivianos. O delegado-chefe da PF de Uberlândia (MG), Júlio Cesar Domingues Bortolato, informou que a droga chegava ao Brasil passando por duas rotas alternativas. A primeira ligaria Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, a Pedro Juan Caballero, no Paraguai, já na fronteira com o Brasil, por via aérea.

Do Paraguai, o carregamento de maconha e cocaína era levado para Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, em carros de passeio e, depois, em caminhões até Anápolis e Caldas Novas, em Goiás, onde era armazenado e misturado a outras substâncias antes de ser distribuído.

Ainda ontem, a PF apreendeu cerca de 1,5 tonelada de maconha na BR-101, em Florianópolis (SC). Durante a ação, uma pessoa foi presa. A droga foi encontrada em um caminhão estacionado num posto de combustíveis.