Uma semana depois da queda de um helicóptero da Polícia Militar do Rio de Janeiro, abatido por traficantes do Morro dos Macacos, na Zona Norte da capital fluminense, os confrontos entre as facções criminosas e os policiais prosseguem sem trégua. Ontem, sétimo dia de enfrentamentos, foram encontrados seis corpos no Morro do Fumacê, Zona Oeste da cidade. A PM, no entanto, não soube informar se esses óbitos estão relacionados aos conflitos com os bandidos.
O atual cenário de guerra no Rio extrapolou os limites dos morros. Ontem, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), pediu a exoneração do porta-voz da PM fluminense, major Oderlei Santos. Em entrevista a uma emissora de televisão, o militar disse que a atitude do capitão Denis Bizarro e do cabo Marcos Sales, policiais suspeitos de omitir socorro ao coordenador social do AfroReggae, Evandro da Silva, morto na madrugada de domingo, havia "apenas" sido um "desvio de conduta".
Segundo o governador, "um porta-voz da instituição não pode se comportar como advogado dos policiais". "Eu não admito, porque há registros contundentes do mau comportamento de um capitão e de um cabo policiais militares. Isso é um desrespeito à população. Ele não merece ser porta-voz de uma instituição como a PM", acrescentou Cabral. A Justiça Militar determinou ontem a prisão preventiva de Bizarro e de Sales. Eles estão presos administrativamente, mas seriam soltos hoje.
Indiferença
O músico Anderson Elias dos Santos, integrante do AfroReggae, informou que, além dos dois policiais acusados de omitirem socorro a Evandro Silva, outros PMs trataram com indiferença os ferimentos sofridos pelo coordenador social do grupo. "Recebi um telefonema dizendo que o Evandro tinha sido baleado no Centro e corri para o local. Levantei a cabeça dele, coloquei a mão no peito e senti que o coração ainda estava batendo. Pedi ajuda a um policial, mas ele disse que era assim mesmo, que o coração ia parando aos poucos", contou.
A viatura que transportava o cabo e o capitão suspeitos de omissão não estava mais na Rua do Carmo, Centro do Rio, onde ocorreu o assassinato. Constrangido, o comandante-geral do PM, Mário Sergio Duarte, garantiu que "todas as coisas que estão sendo ditas serão investigadas".