As estatísticas oficiais mostram que os traficantes internacionais são quem mais abastece a criminalidade no Rio de Janeiro com armas pesadas, enquanto as de baixo porte são pouco procuradas por criminosos. As organizações não governamentais e as autoridades acreditam que o desvio de armamentos de baixo calibre é o responsável pela violência, mas no estado o argumento não encontra muita força por causa do pequeno número de artefatos que chegam às mãos dos criminosos. Das 12.718 armas furtadas entre janeiro de 2008 e junho deste ano em todo o Brasil, segundo a Polícia Federal (PF), apenas 615 estavam no Rio, onde os índices de homicídios dolosos (com intenção de matar) são os mais altos do país.
Segundo o coordenador da ONG Viva Rio, Antônio Rangel, o furto de armas é um dos fatores que mais contribui para assassinatos. ;É um perigo duplo: a pessoa vai ser assaltada por causa da arma e pode morrer por causa dela;, afirma Rangel. Ele aponta três fontes para o extravio: a falta de controle das apreensões, as empresas de vigilância e a própria polícia. A tese ficou comprovada em algumas investigações da Polícia Federal que identificaram oficiais e agentes civis envolvidos com o crime organizado.
[SAIBAMAIS]Apesar de o Rio ter adotado um processo de modernização no controle de suas armas, o sistema ainda não é o ideal. ;Muitas vezes, as armas não são destruídas de imediato e retornam para a mão do bandido;, diz o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), que coordena o setor de armas da Comissão de Segurança Pública da Câmara. Segundo ele, cerca de 28% das armas usadas em homicídios no Rio têm como origem a Polícia Militar ou as Forças Armadas.
No Brasil, o controle das 556 mil armas militares é rígido, segundo o Comando do Exército, responsável por esse tipo de material bélico. Mesmo assim, este ano um quartel foi assaltado em Caçapava (SP), de onde foram levados sete fuzis, todos recuperados. Das armas cadastradas, 272 mil estão com as polícias militares e bombeiros, sendo que as Forças Armadas têm a posse de outras 72 mil, enquanto 18 mil estão em poder de colecionadores. O restante, 194 mil, é considerado não institucional, como as armas utilizadas por juízes e membros do Ministério Público.
Mercado negro
Segundo organizações não governamentais, em alguns países o desvio de armas militares é alarmante. Somente em algumas regiões do Quênia, na África, estima-se que cerca de 40% da munição disponível no mercado negro tenha saído das Forças Armadas do país. O armamento normalmente é usado em guerras civis e étnicas. Parte do material que chega ao Brasil, por exemplo, costumava ser usado na Europa, também em conflitos regionais. Hoje, muitas armas usadas estão nos morros do Rio de Janeiro. Os modelos novos normalmente têm como origem a China, que também vende para a guerrilha na Colômbia e para traficantes paraguaios, que fazem o contrabando para o Brasil. Nos últimos 10 anos, o Exército destruiu cerca de 1,8 milhão de armas de vários tipos e calibres apreendidas no país.
O número
1,8 milhão - Quantidade de armas destruídas pelo Exército nos últimos 10 anos