Jornal Correio Braziliense

Brasil

Carros usados por ministros são pomposos e poluentes

Veículos de boa parte dos ministros do governo não ocupam posições louváveis no ranking de emissão de gases elaborado pelo próprio Ministério do Meio Ambiente. O carro usado por Minc ocupa uma nada honrosa 28ª posição

[FOTO1]O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defende mudanças nos padrões de consumo como uma forma de amenizar os impactos do aquecimento global. E quer que essa seja uma das bandeiras brasileiras na reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em dezembro, na cidade de Copenhague, capital da Dinamarca. Mas, se no discurso o ministro prega mudanças de hábito como forma de salvar o planeta, na prática adota postura diferente pelo menos em relação ao carro oficial que usa para circular em Brasília.

O veículo, um sedã Fiat Linea 1.9, considerado de porte médio e com itens de luxo como ar-condicionado e câmbio automático, ocupa apenas o 28; lugar no ranking dos veículos que menos poluem, elaborado e divulgado pelo próprio Ministério do Meio Ambiente. A lista compara 250 modelos que rodam no país e confere uma ;nota verde; para cada um deles.

A posição, em princípio, não parece tão ruim, mas o levantamento aponta opções melhores em relação à emissão de poluentes ; e até mais baratas, como carros com motores menores, de 1.400 ou 1.000 cilindradas. Para piorar, na frota do ministério, figuram modelos que aparecem na parte de baixo da lista, como sedãs do tipo Astra 2.0, por exemplo, que ocupam a 120; posição.

Para se ter uma ideia, os três carros mais bem colocados na lista das ;notas verdes; ; Focus 2.0 a gasolina, Tiida 1.9 a gasolina e Honda Fit 1.5 a gasolina ; estão na mesma faixa de preço do Linea de Minc.

E até o carro oficial do ministro da Educação, Fernando Haddad, um Ford Fusion, aparece em 18; lugar, mais bem colocado na lista do que o veículo oficial do ministro do Meio Ambiente. Embora esteja em melhor posição no ranking, o carro tem preço mais elevado: cerca de R$ 90 mil, contra os R$ 60 mil cobrados pelo carro de Minc.

O modelo de Haddad, com motor 2.3, é igual ao veículo oficial do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mas a garagem da pasta que ele comanda tem outros carros, que ficaram para trás do ranking dos poluentes, como modelos do tipo Blazer, da Chevrolet, movidos a gasolina, que ocupam o 74; lugar na lista, e peruas Palio Adventure 1.8, que aparecem na 177; posição. Já o MEC conta também com modelos Astra 2.0 em sua frota, iguais aos do Meio Ambiente. O carro oficial do ministro da Saúde, José Gomes Temporão ; um Renault Mégane 2.0 ; aparece em 75; lugar, atrás do Toyota Corolla do ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, que vem em 36;. O ranking foi alvo de críticas principalmente das montadoras, que questionaram os critérios utilizados, e pode passar por uma revisão.

Fator preço
O Ministério do Meio Ambiente informou que a aquisição dos veículos da frota é feita por meio de licitação, levando-se em conta o menor valor cobrado pelos concorrentes, e sem interferência direta do ministro no processo ; mesma justificativa do Ministério da Educação. O Ministério da Fazenda não comentou o assunto até o fechamento desta edição, assim como as pastas da Saúde e de Ciência e Tecnologia. Em relação ao carro oficial de Carlos Minc, a assessoria de imprensa do ministério informou que o fator ;preço; foi o que mais pesou na escolha, mas que houve uma exigência na licitação por um modelo bicombustível. O órgão acrescentou ainda que, para reduzir as emissões, o veículo é abastecido sempre com álcool.


Patrulha no ataque

Especialistas e ambientalistas criticam a tradição do governo de recorrer a veículos de luxo para o transporte de autoridades. ;Carros muito pesados gastam uma energia enorme e deviam ser desestimulados. O governo devia dar o exemplo;, afirmou o físico Luiz Pinguelli Rosa, do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do governo na última terça-feira para debater a proposta que o Brasil levará a Copenhague.

Após a mesma reunião, o ministro Carlos Minc também defendeu que o governo precisa dar o exemplo. ;Sem mudanças radicais nos padrões atuais de consumo, as metas (ambientais) não serão alcançadas. É fundamental que os governos deem o exemplo. Senão, como vamos cobrar mudanças de comportamento?;, declarou. Apesar disso, ao ser questionado se trocaria o sedã de luxo oficial por um carro popular, preferiu não responder.

;Andar com carros grandes é a fotografia perfeita da despreocupação do governo com o tema das mudanças climáticas. A opção deveria ser por uma frota menos poluente, de menor porte e baixo consumo;, avalia o diretor de Políticas Públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão. O procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União, Marinus Marsico, afirma que os órgãos públicos não precisam se basear apenas no preço quando quiserem comprar um veículo. ;O importante é o benefício à administração pública. É possível adquirir um carro menos poluente, por um preço um pouco maior, sem ferir a lei de licitações. Ou o ministro poderia optar por um carro menor, que com certeza seria mais barato do que um carro de luxo;, explica.