Uma lixeira a cada quilômetro ou mais. A conta pode ser feita em pleno calçadão da Avenida Boa Viagem, em Recife, que, desde abril, com a crise do lixo, não recebe novos equipamentos de limpeza. Como resultado da falta de manutenção e de atos de vandalismo, é possível caminhar por até 2,5 quilômetros (duas voltas e meia no Parque da Jaqueira) sem encontrar nenhum equipamento.
Além de irritar os frequentadores, a ausência de recipientes recai sobre o trabalho de varrição. Para manter o cenário de cartão-postal, a área é varrida três vezes por dia, gerando um custo mensal de R$ 174 mil. Um pregão de emergência foi aberto, ontem, para a compra de 200 lixeiras e 100 contêineres (depósitos das barracas de coco). O valor estimado é de R$ 54 mil.
A medida foi adotada diante dos trâmites burocráticos e legais a que o novo sistema de lixo do Recife está sujeito. O edital de licitação para os serviços de limpeza urbana dos próximos cinco anos, que inclui a responsabilidade sobre as lixeiras, já foi encaminhado três vezes para o Tribunal de Contas do Estado e continua em análise.
O problema é que o contrato emergencial em vigor não inclui esse serviço, deixando o calçadão sem os equipamentos. O trecho com maior espaçamento dos equipamentos fica entre a Praça de Boa Viagem e o 3º Jardim. Morador de Boa Viagem, o bancário Leandro Rodrigues, 27 anos, contou que costuma observar pessoas jogarem garrafas de água e latas de refrigerante no chão. "As pessoas vão caminhando, não acham a lixeira e ficam sem paciência. É muito feio não ter lixeiras em plena avenida e, agora que o verão está chegando, vai piorar", disse.
O presidente da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), Carlos Muniz, informou que a limpeza na praia é feita com 54 garis que se dividem entre a faixa de areia e o calçadão. O custo desse serviço pode chegar a R$ 300 mil em situações de festa ou grandes eventos na orla. "O contrato anterior foi encerrado e a reposição dos equipamentos está prevista no edital. Mas não vale para o contrato temporário", esclareceu.
A compra feita pelo pregão irá repor as lixeiras da praia e do calçadão (denominadas de papeleiras), além de garantir a manutenção dos contêineres das barracas de coco, que recebem queixas dos vendedores de não serem suficientes. A previsão é que os depósitos comecem a ser repostos até novembro.
Os modelos das lixeiras serão revistos quando a manutenção passar para a empresa contratada pelo edital da licitação. De acordo com o gerente de fiscalização de limpeza da Emlurb, Antônio Avelino, a empresa está elaborando um modelo mais resistente que pode ser preso por cabos de aço.
"O principal problema são os atos de vandalismo, principalmente em grandes eventos. Por isso, buscaremos um modelo mais resistente", disse. O vendedor José Roberto Azevedo, que trabalha há 15 anos em uma barraca de coco no 2º Jardim, aguarda ansioso as novas lixeiras. "A praia só não fica suja porque limpam o dia todo. Mas, se der uma folga, o lixo junta", contou.