Ao furtar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os cinco suspeitos do crime não tinham motivação política. A intenção, segundo a Polícia Federal em São Paulo, era mesmo obter algum dinheiro tentando vender a prova à imprensa.
Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (6/10), o titular da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários em São Paulo (Delefaz), Marcelo Sabadin Baltazar, informou que o inquérito policial criminal está totalmente concluído. "O caso está totalmente esclarecido, 100% concluído", disse ele.
[SAIBAMAIS]"A investigação demonstrou [que era] um grupo amador tentando obter dinheiro de uma maneira meio esquisita, tentando vender [a prova] para a imprensa. Em nenhum momento foi demonstrado qualquer tipo de vínculo com o governo", afirmou o delegado. "Não há interesse político", ressaltou o superintendente em exercício da Polícia Federal em São Paulo, Fernando Duran Poch.
Cinco pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal por participação no vazamento da prova. O empresário e publicitário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid foram indiciados no último sábado (3/10) pelos crimes de violação de sigilo funcional e equiparação a funcionário público.
Ontem foram indiciados três funcionários temporários da Cetro, empresa que fazia parte do consórcio chamado Connasel, responsável pela impressão, distribuição e correção da prova. Felipe Pradella, Marcelo Sena e Felipe Ribeiro foram indiciados por peculato, quebra de sigilo funcional e equiparação a funcionário público. Pradella, que já tinha antecendente criminal por soltar balão e é acusado de ameaçar a jornalista Renata Cafardo, do jornal O Estado de S. Paulo, também foi indiciado por extorsão.
Segundo Baltazar, as investigações começaram com a notícia da participação do Craid, que prestou depoimento sábado na Polícia Federal. Ele disse à polícia que Felipe Pradella, seu amigo de infância, tinha obtido as duas provas do Enem e o procurou para que tentassem vender a prova à imprensa. Ambos foram então procurar o empresário Luciano Rodrigues, que intermediou o contato com os veículos de imprensa (O Estado de S. Paulo, TV Record e Folha de S.Paulo, entre outros).
Fragilidade
"Ele [Pradella], ganhando R$ 60 por noite de serviço, vislumbrou a possibilidade de ganhar R$ 500 mil de uma vez só, subtraindo a prova lá de dentro, tendo em vista que percebeu uma certa fragilidade no esquema de segurança no interior da gráfica", afirmou o delegado Baltazar. O valor de R$ 500 mil foi o pedido a jornalistas em troca da divulgação da prova do Enem.
De acordo com o delegado, a primeira prova foi furtada no dia 21 de setembro, quando Pradella pediu que Felipe Ribeiro o ajudasse. Ribeiro, que trabalhava na área de impressão do Caderno 1 do Enem, saiu com a prova escondida na cueca e a entregou a Pradella. No dia seguinte, o Caderno 2 do Enem foi furtado pelo próprio Pradella, com a ajuda do amigo Marcelo Sena, que escondeu a prova em sua camisa. A Polícia Federal tem imagens que mostram Sena deixando a sede da gráfica com a prova do Enem escondida na camisa.
Além do indiciamento dos cinco envolvidos, o inquérito policial vai destacar a fragilidade do sistema de segurança da prova do Enem. "Será feito um documento para a direção geral, que servirá de subsídio para, em contato com o Ministério da Educação, aprimorar-se o sistema de segurança, impressão e distribuição dos próximos concursos", afirmou Baltazar.