A Polícia Militar conduziu a delegacias de Belo Horizonte, no ano passado, 198 flanelinhas por exercício irregular da profissão. Nos sete primeiros meses deste ano, mais 160. Vários soldados e oficiais foram escalados para combater os achaques dos falsos lavadores e tomadores de conta, mas a ousadia deles é tanta que um pequeno grupo age na sombra da corporação.
Três deles transformaram as vagas públicas em frente ao quartel-general da PM, na arborizada Praça José Mendes Júnior, ao lado do Palácio da Liberdade e do Palácio dos Despachos, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul, num lucrativo estacionamento particular. Eles chegam antes de o Sol sair e reservam vagas a clientes dispostos a pagá-los, mensalmente, de R$ 30 a R$ 50.
A praça é muito disputada por quem trabalha ou estuda nas vizinhanças, pois é um dos poucos lugares da região isentos do rotativo. Para não deixar os clientes na mão, R., como é conhecido um dos rapazes que ganham a vida na José Mendes Júnior, sai de casa às 5h. Ele usa diferentes artimanhas para guardar as vagas, como usar o carro que será lavado para ocupar o espaço de dois veículos. Pela mensalidade, cobra R$ 30. O valor pedido pelos colegas é mais alto: de R$ 40 a R$ 50.
Motoristas que recriminam a atuação dos flanelinhas ironizam o fato, como M., um rapaz que trabalha na região e não consegue parar o carro na praça. "Há um comandante em frente ao quartel da PM. Não é comandante da corporação, mas um rapaz que determina quem para e quem não para. Ele fica com as chaves dos carros, inclusive, e achaca o motorista por dia ou por mês. Todos têm medo, principalmente as mulheres. O rapaz ameaça e grita."
Os flanelinhas fazem de tudo para não perder dinheiro: aceitam até cheque pré-datado. Por outro lado, a mensalidade não inclui a limpeza do carro. Assessor de imprensa da PM, o capitão Gedir Rocha recomenda às vítimas ligar para o 190. Se preferir, a queixa pode ser feita anonimamente pelo Disque Denúncia: 181. "Estão sendo feitas várias operações (contra os infratores) e todos os veículos irregulares são autuados". A corporação estuda projetos viários com a BHTrans que podem afastar os maus flanelinhas das ruas.
A situação não é menos grave próximo ao Fórum Lafayette, no Barro Preto. Guardadores irregulares se apoderaram das ruas e ameaçam quem se recusa a pagar pela "olhadinha" de mentira. O advogado D. foi vítima de um lavador que explora o quarteirão da Rua Ouro Preto, entre a Rua Guajajaras e a Avenida Augusto de Lima.
"O quarteirão é disputado porque não tem rotativo. Fui estacionar o carro na única vaga e, de repente, um flanelinha, que dirigia o veículo de algum mensalista, entrou na minha frente. Reclamei e ele me respondeu com vários palavrões."
O Estado de Minas flagrou alguns flanelinhas guardando vagas com carros de clientes na manhã de segunda-feira: um veículo ocupando o espaço de dois. Um dos rapazes que atua na área estava com a mão cheia de chaves. Por diversas vezes, manobrou um Cross Fox preto para dar espaço a motoristas que chegavam e se dispunham a desembolsar alguma quantia. As manobras ocorreram em frente a um carro da PM.