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Para psicóloga, preconceitos e estereótipos dificultam aceitação da velhice

Brasília - Aceitar o envelhecimento é ainda hoje, para muitas pessoas, a tarefa mais difícil ao longo da vida, afirma a psicóloga Vera Lúcia Coelho, pesquisadora do Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário da Universidade de Brasília (UnB). Professora aposentada, Vera diz que a dificuldade se deve, em parte, a estereótipos fixados no imaginário coletivo com a ajuda da mídia, que tende a apresentar o jovem como modelo de beleza e vigor. "A velhice e o idoso são marcados por muitos preconceitos, estereótipos e mitos. Por um lado, passamos a considerar que se a beleza é um atributo associado ao jovem, o velho só pode ser feio. Vemos o idoso como alguém incapaz de aprender coisas novas, alguém inflexível e que não tem desejo sexual. Associamos-no à doença", sustenta a psicóloga. "Por outro lado, às vezes o idoso é visto como uma pessoa intrinsecamente boa e pura. Nada disso é inteiramente verdade." Para Vera, muitos idosos tendem a incorporar esses conceitos, passando a enxergar a si próprio como alguém ultrapassado e sem desejo pela vida. Comportamento que se soma a outras situações que costumam acompanhar a velhice, como momentos de solidão e conflitos familiares. Felizmente, garante a psicóloga, há muitas pessoas que veem o envelhecimento como algo digno e prazeroso. E que garantem não trocar a velhice - quando afirmam ter, enfim, encontrado formas de se realizar - pela vida que tinham antes. De acordo com Vera, essa satisfação pessoal se relaciona com a maior ou menor capacidade de cada um para reinventar a própria vida diante da aposentadoria, da saída dos filhos de casa ou da morte de familiares e amigos, atividades que ajudavam a dar certo sentido à existência. "Encarar o envelhecimento é, de certa maneira, se deparar com a morte. E todos nós temos interiorizado o ideal da eternidade. Todos nos julgamos eternos, mas é preciso saber aceitar o envelhecimento como algo digno e que pode ser marcado por muito prazer. E para aceitar esse processo é preciso se despojar um pouco desse valor social de que só é belo o que é jovem", conclui a psicóloga. Ao entrevistar pessoas de diferentes faixas etárias sobre as conquistas e as dificuldades enfrentadas por quem chegou à terceira idade, a Agência Brasil encontrou quem associasse os problemas enfrentados pelos idosos ao desrespeito decorrente da concepção de que eles são "pessoas ultrapassadas". Para o engenheiro angolano Luís Fernandes, de 37 anos, a sociedade tende a ser intolerante com os idosos. "Há um desrespeito muito grande porque as pessoas pensam que a velhice é uma fase da vida a qual jamais vão chegar. A preocupação permanente é ser eternamente jovem, o que está totalmente errado." Outra que reconhece o preconceito contra os idosos é a agente aeroportuária Flávia Cristina Facundo, de 33 anos. "Ainda há muito preconceito. O ser humano deveria ter mais consciência e consideração com os idosos e eu acho que essa é uma das dificuldades que ainda têm que ser superadas." Para a empresária Ana Cristina Celestino, de 41 anos, os mais jovens são "desrespeitosos" ao imaginar que uma pessoa mais velha "não sabe nada ou está ultrapassada". "Isso é um desrespeito muito grande. A pessoa achar que o idoso não pode trabalhar, não tem o que fazer. As pessoas não dão valor à sabedoria da idade."