Maria Pureza Silva Cutrim recebeu novos rins há quatro meses. Desde então, ela precisa tomar vários medicamentos que regulam o funcionamento dos rins e adaptam os órgãos ao restante do corpo da senhora aposentada de 54 anos. Pureza, entretanto, tem tido preocupações com a saúde. Assim como cerca de 700 transplantados do estado, ela não encontra a medicação de que precisa na Farmácia Estadual de Medicamentos Excepcionais (Feme).
"Meu rim ainda não está adaptado. A gente não pode facilitar, porque meu organismo ainda não aceitou totalmente. Não posso ficar sem água, sem remédio...nem mesmo ficar andando de um lado para o outro", revela preocupada.
Segundo ela, antes que ficasse sem os remédios, procurou a nefrologista que a atende e pediu a ela o medicamento. "Ela me emprestou, mas pediu que quando eu recebesse, devolvesse, porque tem gente que precisa até mais do que eu", disse. Na Feme, uma das enfermeiras chegou a abrir a porta do depósito de remédios a fim de provar a Pureza que não havia medicamento no local.
Representação
Pureza Cutrim e outros transplantados estiveram na manhã de quarta-feira (23/9) na sede das promotorias a fim de conversar com o promotor de Saúde do Ministério Público Herberth Figueiredo a respeito da situação.
Há dois meses, alguns deles já haviam entrado com uma representação contra o estado, requerendo os medicamentos de fornecimento público obrigatório. A promotoria declarou que solicitará a normalização do fornecimento e convocou os pacientes para uma nova reunião na próxima segunda-feira (28/9), quando comunicará a resposta da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Os custos
Os medicamentos eram distribuídos de forma mensal, mas agora penas uma quantidade referente a quinze dias é entregue aos pacientes. "Está certo que aumentou o número de transplantados, mas eles deveriam ver isso e estar prontos", comentou Antonio Serra Coelho, centésimo transplantado no estado, há quatro anos.
"Antigamente, eu tomava 14 comprimidos, mas hoje tomo só seis. Mesmo assim, a gente precisa muito disso", afirmou. Segundo ele, cada cápsula custa em média R$19, o que ao final do mês somaria quase R$3.600.
José Rodrigues Roxo, 51, é transplantado há sete anos. Ele considera má vontade da administração pública a falta dos medicamentos. "Vejo que não há a preocupação de fazer um calendário nem de aumentar os pedidos. A desinformação é muito grande. Eles tratam mal as pessoas, não sabem responder. Lá fora o acesso é mais fácil. Aqui é travado, complicado", observou o José Roxo.
A reclamação que anteriormente referia-se apenas a um dos medicamentos estende-se agora aos quatro usados pelos transplantados: Tracolino, Sirolime, Micofelanato de sódio e de mofetil. Em julho, foram concedidos dez dias para que a situação se regulamentasse e os remédios fossem distribuídos.
Agora, entretanto, o promotor espera uma resposta ainda mais imediata da SES a respeito do problema. O conhecimento do caso pela promotoria se deu após a denúncia de uma das médicas nefrologistas, que enviou à promotoria um documento com o nome dos pacientes e dos remédios em falta.