Na contramão da cartilha da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda o consumo mínimo diário de 400 gramas de frutas e hortaliças, o brasileiro ingere apenas um terço dessa porção. Ignorando a enorme diversidade oferecida pelas plantações, a população prefere açúcares, gorduras, refrigerantes, biscoitos, bolos, guloseimas e sucos industrializados.
Levantamento realizado pelo Ministério da Saúde revela que somente 25,2% das crianças de dois a cinco anos, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), consomem frutas entre cinco a sete vezes por semana. Na faixa etária de cinco a 10 anos, período em que esse grupo já pode escolher suas refeições, a situação é mais grave: 26,6% admitiram que balas e chocolates fazem parte de sua alimentação entre cinco a setes vezes por semana.
A necessidade de ampliar o consumo de produtos naturais e saudáveis e reduzir a ingestão de açúcares, refrigerantes e guloseimas está sendo discutida, em Brasília, no 5º Congresso Pan-Americano de Incentivo ao Consumo de Frutas e Hortaliças.
Presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Renato Maluf afirma que os hábitos alimentares não são saudáveis no Brasil. "A população opta por aquilo que enche o bucho. E nem sempre o que satisfaz o organismo faz bem para a saúde."
A velha fórmula feijão com arroz não deve ser abandonada, segundo Elisabetta Recine, nutricionista da Universidade de Brasília (UnB) e também integrante do Consea. "Essa mistura deve ser valorizada, sem esquecer de adicionar frutas e hortaliças em todas as refeições, e evitar os industrializados", observa.
Fascinado por guloseimas, o pequeno Caio Borges, 5 anos, cumpre uma dieta linha dura elaborada pela mãe, a relações públicas Adriana Borges, 38 anos. O garoto, que pratica natação e judô às terças e quintas, não come o que quer nas refeições. "Se deixar, ele só quer saber de besteiras. Chocolate, doce e refrigerante são permitidos apenas nos fins de semana. Dentro de casa é fácil de controlar, mas quando saímos para a rua é mais complicado", admite Adriana, que diz contar com o apoio do marido na orientação nutricional do único filho. "A sorte é que ele gosta de frutas e legumes. Mas nos dias em que ele não quer, cozinho verduras dentro do feijão", conta.
entrevista - GISELE BORTOLINI
Segredo é balancear
Integrante da coordenação-geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, a nutricionista Gisele Bortolini relaciona o consumo constante de açúcares, gorduras e refrigerantes ao surgimento de hipertensão, diabetes e cânceres.
Para uma alimentação saudável, a especialista, formada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), sugere uma alimentação balanceada com frutas e hortaliças, e limita a ingestão de doces e produtos industrializados em uma porção/dia.
Por que é tão importante o consumo de frutas e hortaliças?
Porque são fontes importantes de vitaminas e minerais essenciais à saúde. É recomendável, desde o sexto mês de vida, o consumo de, no mínimo, duas frutas, para se formar hábitos alimentares saudáveis desde a infância. A ideia é que os meninos e meninas comam alimentos saudáveis ainda nesta fase, e não como ocorre hoje no país, quando as mães incorporaram o consumo de biscoitos recheados, refrigerantes e salgadinhos.
Quais os maiores prejuízos para quem ingere açúcar, gordura e refrigerante?
O consumo desses alimentos estão associados à prevalência, no Brasil, de excesso de peso, hipertensão, diabetes, e doenças crônicas, como cânceres.
Qual a porção limite de deglutição de refrigerantes, sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas e outras guloseimas?
Deve-se consumir, no máximo, uma porção do grupos dos açúcares e doces por dia. É muito importante reduzir a ingestão de refrigerantes e de sucos industrializados, pois a maioria dessas bebidas contém corantes, aromatizantes, açúcar e adoçantes artificiais. (RC)