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Minas tem 2,6 milhões de pessoas com alguma deficiência física

Aos 29 anos, o professor de matemática Evandro Saito Freimann perdeu praticamente toda a visão, pois as células que transformam a luz em imagem, no cérebro, pararam de funcionar. Hoje, aos 47, ele enxerga apenas vultos. O educador venceu as barreiras impostas pela cegueira e conquistou uma vaga no concorrido mercado de trabalho: é educador do Instituto São Rafael, no Barro Preto. O dia a dia de Rosa da Silva dos Reis, de 55, também não é nada fácil. Em 1974, quando tinha 18, uma bala perdida atingiu sua coluna e a deixou dependente de uma cadeira de rodas. Apesar da dificuldade em se locomover, está sempre disposta a ajudar os outros. Seja por doença, por acidente ou outro motivo, há 2,6 milhões de mineiros (14,5% da população) com algum tipo de deficiência. É o que revela a dissertação Os deficientes no estado de Minas Gerais: uma abordagem espacial e demográfica utilizando os dados do Censo Demográfico de 2000, assinada pelo geógrafo Emerson Augusto Baptista e aprovada no Programa de pós-graduação (mestrado) em geografia - tratamento da informação espacial da PUC Minas, sob a orientação do professor José Irineu Rigotti. Ele chegou a essa população depois de analisar dados do Censo de 2000 - o último em que os técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) visitaram todos os municípios do país - em softwares especiais da PUC. Confira a íntegra da pesquisa O geógrafo seguiu as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e considerou cinco variáveis de deficiência: visão (9,5% da população mineira), audição (3,7%), paralisia total/permanente ou falta de membro (0,9%), problema mental permanente (2%) e dificuldade para caminhar ou subir escadas (5,2%). Essa última, porém, deve ser interpretada com ressalva, pois a limitação em se locomover faz parte da natureza do ser humano quando a pessoa chega à faixa etária idosa. Ainda é importante observar que a soma dos percentuais das cinco variáveis é de 21,3%. O índice está acima do percentual de 14,5% porque há pessoas com mais de um tipo de deficiência. Mas o estudo não se restringiu a números e percentuais. O autor cruzou diversas variáveis do Censo e elaborou mapas inéditos da deficiência no estado, mostrando quais cidades têm maior proporção de moradores nessa situação. Para isso, calculou a taxa bruta padronizada (TBP) para cada variável e em cada um dos 853 municípios mineiros. Os mapas e as análises indicam ao poder público quais cidades têm maior proporção de pessoas que dependem de atenção especial. Em relação à visão, Ponto Chique, no Norte de Minas, tem a maior TBP: 25,6%. Em relação às vítimas de paralisia permanente/total ou falta de membros, Monte Formoso, no Vale do Jequitinhonha, é a campeã, com TBP 3,8%. Por sua vez, Córrego Novo, no Vale do Rio Doce, liderou o ranking daqueles que têm dificuldades em caminhar e subir escadas (13,9%). Em se tratando da deficiência de audição, Campo Azul, no Norte de Minas, teve o maior índice: 8,6%. "Há uma concentração mais significativa que se estende de Noroeste a Leste de Minas. Abrange cidades das mesorregiões Noroeste, Norte, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, o Norte da mesorregião Metropolitana de BH e o Vale do Rio Doce", reforçou. Porém, como observa Evandro, as dificuldades estão em todo lugar. "Houve melhora na acessibilidade nos passeios de BH, mas é preciso colocar proteção nas bases dos telefones público. Quanto ao mercado de trabalho, houve avanço no cumprimento da Lei 8.112, norma que reserva percentuais das vagas para os deficientes", disse o professor. Ele avalia que parte dessas vagas só existe porque o Ministério Público do Trabalho exige das empresas o cumprimento da lei. Dona Rosa, hoje aposentada, concorda com o educador. "Ocorreram melhorias para os deficientes em relação aos últimos anos, mas há muito o que avançar". A mulher, vítima de uma bala perdida na Avenida Raja Gabaglia, cita, por exemplo, que muitos ônibus da capital ainda não têm elevador para cadeirantes.