Mais de 400 crianças carentes participam nesta segunda-feira (14/9) do Programa da Saúde Bucal das Crianças do Recife. Professores e alunos de odontologia da Universidade de Pernambuco (UPE) colocam em prática um estudo inédito que serviu para defesas de teses de mestrado e doutorado.
Eles compararam a utilização de dois produtos nos dentes de crianças e comprovaram a eficácia como a paralisação e prevenção das cáries. O programa começou em 2008 e é financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Universidade de Pernambuco (UPE).
De acordo com a orientadora e coordenadora do projeto, Aronita Rosenblatt, o uso dos produtos diamino fluoreto de prata com o verniz fluoretado previniu e paralisou o crescimento de cáries. "O estudo mostrou que 98% das cáries que estavam em progresso foram bloqueadas. O uso do produto também preveniu o aparecimento de novas cáries em 89% das crianças", revelou.
A pesquisa foi realizada em crianças de até seis anos de idade, que vivem na Região Político-Administrativa 2 (RPA), em Campo Grande, zona Norte da cidade. Segundo a professora, a substância age no dente durante um ano.
Outro material utilizado pelos dentistas foi o cimento de vidro ionomérico. Junto com o diamino fluoreto de prata, o produto funciona como um adesivo no dente e previne o surgimento de cáries por no mínimo três anos.
De acordo com a estudante de doutorado Flávia Nassar, o tratamento é indolor e pode ser feito em qualquer lugar. "Não é preciso estar em um consultório para fazer o tratamento. Basta ter duas pessoas sentadas na posição joelho a joelho, e em três minutos a criança sai com os dentes protegidos", contou. Ela afirmou que o custo do produto é baixo. "O vidrinho custa R$ 12 e dá para aplicar em mais de 50 crianças", disse.
O estudante de mestrado Valdeci Elias lembrou que a substância ainda não é utilizada nos postos de saúde pública com frequência. "Os postos de saúde deveriam ter esse produto. É melhor parar o progresso da cárie para que a população não perca os dentes nem prejudique os outros", comentou. Ele revelou que as crianças da RPA 2 tem o maior índice de cáries do Recife. "Cerca de 70% das crianças estudadas tinham cáries. Este número é extremamente elevado", declarou.
Falta de orientação, de prevenção, dificuldade para comprar material de higiene e acesso ao posto de saúde são alguns dos fatores que contribuem para o descaso na saúde bucal do município.
A estudante Rita de Cássia de Oliveira, de 7 anos, disse que os dentes doem muito toda vez que se alimenta. "Tem dia que saio de casa sem escovar os dentes porque esqueço", contou. Outra aluna da escola, Karina, 4 anos, disse que em casa só tinha uma escova de dentes. "Tenho cinco irmãos e todo mundo usa a mesma escova", revelou. Robert, 5 anos, afirmou que não tinha escova de dentes em casa. "Esta é primeira que tenho", mostrou uma que ganhou dos dentistas.
A ação acontece na Escola Municipal Jandira Botelho, em Campo Grande. Participam também duas professoras da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. A professora americana Linda Nelson disse que nunca tinha visto um procedimento como aquele. "As crianças são atendidas sem precisar ir até à cidade. Os dentistas vêm até a escola fazer o tratamento. É um trabalho maravilhoso", elogiou. Ela destacou ainda que a população americana não sofre muito com problemas dentários porque o governo investe muito na saúde bucal.