No Brasil, o afastamento do emprego por transtornos mentais e comportamentais já é a terceira maior causa de concessão de benefícios da Previdência
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No Brasil, o afastamento do emprego por transtornos mentais e comportamentais já é a terceira maior causa de concessão de benefícios da Previdência

Inspirada na melancolia dos literatos românticos e batizada de o mal do século 19, a depressão é a segunda causa de adoecimento e, em 10 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que será o principal motivo de incapacitação para o trabalho. As doenças oesteomusculares (Dort), que afetam tendões e músculos, são as campeãs nesse ranking inglório. No Brasil, o afastamento do emprego por transtornos mentais e comportamentais pulou de 612 casos em 2006 para 12.812 em 2008. Ocupa a terceira posição entre as causas de concessão de benefício, como o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez. Um custo anual de R$ 35 bilhões ao ano para a Previdência Social. Nos Estados Unidos, já representa uma conta de US$ 70 bilhões para os cofres públicos. O mal atinge trabalhadores do setor privado e público de todas as classes sociais. Os profissionais mais vulneráveis estão nas áreas de tecnologia, informática, financeira, bancária, judiciária, de saúde e de educação. Em sua maioria, são trabalhadores que adoecem e sofrem calados. Preferem o anonimato para se livrar do estigma da doença. Têm dificuldade em aceitar a doença, e quando procuram tratamento, já estão em crise. Às vezes, o quadro é irreversível e leva à aposentadoria por invalidez. Nome fictício: Manuela. Idade: 45 anos. Profissão: bancária. O depoimento: "A pressão é muito grande no trabalho. São metas abusivas e inalcançáveis. O funcionário se sente mal e vai levando. Chega a um ponto que estoura. Assim como eu, na minha agência, 20% dos empregados tomam tarja preta e vermelha. O nível de depressão é muito alto", revela. Funcionalismo Antes considerado o emprego ideal porque se trabalhava pouco e sem a cobrança de metas, o serviço público agora exige resultados. Em especial no Judiciário, onde aumentou a demanda da população e o número de funcionários é insuficiente. A pressão foi a gota d%u2019água para João (nome fictício), 45 anos, funcionário da área de informática do Judiciário. A depressão chegou após a licença para se dedicar ao mestrado. "Quando voltei, tive dificuldade de adaptação. Os colegas me olhavam atravessado porque fiquei um tempo fora. Há também a competitividade. Além disso, tive problemas pessoais", diz. Foram idas e vindas de licença médica, terapia, remédio tarja preta. "Voltei ao trabalho, mas ainda controlo com medicamentos. Minha meta é deixar de tomar remédios." A depressão avança e traz consequências à economia do país. Pesquisa da Federação Mundial para a Saúde Mental (World Federation for Mental Health), intitulada Depressão, a verdade dolorosa, identificou que 64% das pessoas deprimidas no Brasil faltam ao trabalho. Uma média de 10 dias perdidos por ano. Pelo menos 80% disseram ter a produtividade reduzida em 26%. O estudo avaliou 377 adultos e 756 médicos (psiquiatras e clínicos-gerais) no Brasil, México, Canadá, na Alemanha e França. Um sinal para as autoridades públicas, empresas e, em especial, para o trabalhador. Distúrbio não escolhe vítimas Como identificar a depressão? O corpo dá sinais: insônia, alteração do apetite, sensação de tontura e zumbido, taquicardia, fobia do local de trabalho, insegurança, tremores. São sintomas desencadeados pela sobrecarga física ou emocional provocados por estresse, quadro conhecido como síndrome de Burnout. O psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Acioly Lacerda alerta que o importante não são os sintomas, mas a persistência deles, que caracteriza a depressão. Lacerda diz que os trabalhadores que observam a recorrência desses sintomas devem sair do ambiente que causa o estresse e procurar um psiquiatra para identificar qual o problema orgânico que causa a ansiedade persistente. Há outras formas de se tratar sem o afastamento das atividades profissionais. Ele sugere a atividade física regular, hábitos saudáveis (reduzir cafeína, álcool, cigarro), a ingestão de alimentos sadios e o respeito aos horários de sono. O avanço da depressão entre os trabalhadores preocupa os profissionais de saúde. De acordo com Acioly, hoje, entre as 10 causas de afastamento do trabalho, está o estresse. Seis estão relacionadas à depressão. A doença não faz distinção de sexo, idade, posição social e renda. Mercado A presidente do International Stress Management Association (Isma Brasil), Ana Maria Rossi, confirma que o estresse no mercado de trabalho está aumentando nos últimos anos. 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No Brasil, o afastamento do emprego por transtornos mentais e comportamentais já é a terceira maior causa de concessão de benefícios da Previdência

Inspirada na melancolia dos literatos românticos e batizada de o mal do século 19, a depressão é a segunda causa de adoecimento e, em 10 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que será o principal motivo de incapacitação para o trabalho. As doenças oesteomusculares (Dort), que afetam tendões e músculos, são as campeãs nesse ranking inglório. No Brasil, o afastamento do emprego por transtornos mentais e comportamentais pulou de 612 casos em 2006 para 12.812 em 2008. Ocupa a terceira posição entre as causas de concessão de benefício, como o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez. Um custo anual de R$ 35 bilhões ao ano para a Previdência Social. Nos Estados Unidos, já representa uma conta de US$ 70 bilhões para os cofres públicos. O mal atinge trabalhadores do setor privado e público de todas as classes sociais. Os profissionais mais vulneráveis estão nas áreas de tecnologia, informática, financeira, bancária, judiciária, de saúde e de educação. Em sua maioria, são trabalhadores que adoecem e sofrem calados. Preferem o anonimato para se livrar do estigma da doença. Têm dificuldade em aceitar a doença, e quando procuram tratamento, já estão em crise. Às vezes, o quadro é irreversível e leva à aposentadoria por invalidez. Nome fictício: Manuela. Idade: 45 anos. Profissão: bancária. O depoimento: "A pressão é muito grande no trabalho. São metas abusivas e inalcançáveis. O funcionário se sente mal e vai levando. Chega a um ponto que estoura. Assim como eu, na minha agência, 20% dos empregados tomam tarja preta e vermelha. O nível de depressão é muito alto", revela. Funcionalismo Antes considerado o emprego ideal porque se trabalhava pouco e sem a cobrança de metas, o serviço público agora exige resultados. Em especial no Judiciário, onde aumentou a demanda da população e o número de funcionários é insuficiente. A pressão foi a gota d%u2019água para João (nome fictício), 45 anos, funcionário da área de informática do Judiciário. A depressão chegou após a licença para se dedicar ao mestrado. "Quando voltei, tive dificuldade de adaptação. Os colegas me olhavam atravessado porque fiquei um tempo fora. Há também a competitividade. Além disso, tive problemas pessoais", diz. Foram idas e vindas de licença médica, terapia, remédio tarja preta. "Voltei ao trabalho, mas ainda controlo com medicamentos. Minha meta é deixar de tomar remédios." A depressão avança e traz consequências à economia do país. Pesquisa da Federação Mundial para a Saúde Mental (World Federation for Mental Health), intitulada Depressão, a verdade dolorosa, identificou que 64% das pessoas deprimidas no Brasil faltam ao trabalho. Uma média de 10 dias perdidos por ano. Pelo menos 80% disseram ter a produtividade reduzida em 26%. O estudo avaliou 377 adultos e 756 médicos (psiquiatras e clínicos-gerais) no Brasil, México, Canadá, na Alemanha e França. Um sinal para as autoridades públicas, empresas e, em especial, para o trabalhador. Distúrbio não escolhe vítimas Como identificar a depressão? O corpo dá sinais: insônia, alteração do apetite, sensação de tontura e zumbido, taquicardia, fobia do local de trabalho, insegurança, tremores. São sintomas desencadeados pela sobrecarga física ou emocional provocados por estresse, quadro conhecido como síndrome de Burnout. O psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Acioly Lacerda alerta que o importante não são os sintomas, mas a persistência deles, que caracteriza a depressão. Lacerda diz que os trabalhadores que observam a recorrência desses sintomas devem sair do ambiente que causa o estresse e procurar um psiquiatra para identificar qual o problema orgânico que causa a ansiedade persistente. Há outras formas de se tratar sem o afastamento das atividades profissionais. Ele sugere a atividade física regular, hábitos saudáveis (reduzir cafeína, álcool, cigarro), a ingestão de alimentos sadios e o respeito aos horários de sono. O avanço da depressão entre os trabalhadores preocupa os profissionais de saúde. De acordo com Acioly, hoje, entre as 10 causas de afastamento do trabalho, está o estresse. Seis estão relacionadas à depressão. A doença não faz distinção de sexo, idade, posição social e renda. Mercado A presidente do International Stress Management Association (Isma Brasil), Ana Maria Rossi, confirma que o estresse no mercado de trabalho está aumentando nos últimos anos. "Às vezes, os funcionários não respeitam os seus limites e assumem outras atividades para obter bônus e melhores salários. As empresas adotam ações pontuais, mas não reduzem a fonte do estresse", dispara. Ela cita o estudo do Isma (veja quadro) com mil profissionais de diversos países, onde o Brasil lidera o ranking de horas trabalhadas por semana. Os brasileiros trabalham 54 horas, contra 41 da média mundial. (RF) Problema crescente O Brasil gasta por ano R$ 35 bilhões com a baixa produtividade e a falta ao trabalho provocadas pela depressão. Nos Estados Unidos, o custo é o dobro: R$ 70 bilhões/ano Na pesquisa feita pela ISMA Brasil com 1 mil trabalhadores foi comprovado que a depressão atinge 55% dos homens e 45% das mulheres Das pessoas entrevistadas, 47% disseram que se sentem eventualmente deprimidas e 10% já desenvolveram depressão A maior incidência dos casos de depressão está nos profissionais das áreas de tecnologia e informática, serviços financeiros e bancários Os trabalhadores com cerca de 45 anos são mais vulneráveis à depressão, motivada pela ameaça do desemprego e a dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho Medo de perder o emprego e ser rebaixado do cargo, a falta de perspectiva profissional, a sobrecarga de trabalho e a demanda maior do que a capacidade de executar as tarefas são as principais causas da depressão A pesquisa mostra que 78% das pessoas depressivas têm problemas de concentração, 73% têm dificuldade de relacionamento e 42% apresentam queda na produtividade e desempenho no emprego A dor muscular e a dor de cabeça, com 83%, aparecem em primeiro lugar entre os sintomas físicos da depressão. Problemas do sono vêm em segundo lugar, com 35% e, em terceiro, problemas cardíacos, com 28% A angústia com 76% aparece como o primeiro sintoma emocional da depressão, seguido da ansiedade com 73% e da melancolia, com 68% Fonte %u2013 International Stress Management Association (Isma Brasil)

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