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Invasores de fazenda dizem ter recebido incentivo de políticos locais, afirma delegado

O delegado de polícia Raimundo Batalha atribuiu a ;oportunismo eleitoral; a ocupação da Fazenda São Cristóvão, na cidade de Pio XII (MA), a cerca de 270 quilômetros da capital São Luís. Batalha afirma ter colhido depoimentos de pessoas que afirmam ter invadido a área de 71 hectares, no último sábado (5), com o estímulo de políticos locais.

O delegado afirma que os invasores não integram nenhum movimento social organizado. Entretanto, defende que a ;operação bem orquestrada; sugere a existência de lideranças experientes, razão que o leva a não descartar a hipótese de que o grupo tenha sido incentivado por vereadores cujos nomes ele preferiu não revelar. Batalha garante que, se encontrar indícios do envolvimento de políticos com o grupo, também pedirá que eles sejam presos preventivamente.

;Não há nenhum movimento popular organizado por detrás destas pessoas, mas ao que parece elas estão sendo coordenadas por dois vereadores que as estão manipulando;, declarou o delegado à Agência Brasil, por telefone.

Um dos filhos do dono da fazenda, o professor José Ribamar Jorge Andrade, diz ter ouvido relatos sobre a suposta participação de dois vereadores ; Maria Fernandes, a Duduca (PSB) e Edimundo Pescador (PSL) -, além do possível envolvimento do vice-prefeito, Francisco José Braga de Oliveira, o Franzé. Duduca e Franzé negam ter qualquer ligação com os invasores.

;Ele [o vice-prefeito] me ligou e disse não ter nada a ver com isso. Aí eu disse que tinha uma gravação [em vídeo] com um ocupante dizendo que ele estava metido na invasão. Cabe a ele esclarecer tudo e, se for o caso, processar quem o envolveu;, disse o professor.

Procurados pela reportagem, o vice-prefeito e a vereadora negaram qualquer participação com o episódio. ;Em momento algum eu tive conhecimento ou dei apoio a esta invasão;, afirma Maria Fernandes, alegando que a entidade a que pertence, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, desaprova invasões, sobretudo as violentas. A vereadora afirma que só esteve no local dois dias depois do episódio, a convite de um conhecido.

;Eu nem sei a que atribuir terem nos apontado como mandantes. Entendo que por eu fazer oposição ao prefeito e ser sindicalista, me apontem, mas me admiro que mencionem os nomes do doutor Franzé e do Edmundo, vereador da base aliada. Acho que isso é simplesmente para colocar a gente na fogueira;, declarou Maria Fernandes, afirmando não saber se a Fazenda São Cristóvão está ou não em área pública.

;Não tenho conhecimento da documentação [da propriedade]. Tanto o seu Cristino [de Arruda Andrade] como os invasores são meus amigos, mas eu não sou leviana e não vou dizer nem que sim, nem que não. O que posso dizer é que moro aqui há mais de 20 anos e sei que a família também mora lá desde que eu era criança e eu sempre ouvi dizer que a propriedade é do seu Cristino, mas não sei dizer se a cerca avança ou não sobre área do município;, concluiu a vereadora.

O vice-prefeito, que é médico, disse conhecer alguns dos invasores por causa de suas atividades profissionais. No entanto, ele afirma não saber quem é a pessoa que aparece no vídeo apresentado pelo filho do dono da fazenda. Ele afirmou prestar serviços para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mas negou ter tempo para participar de atividades políticas. E disse ainda não saber se a área ocupada pertence ou não ao município ou se a prefeitura tomou alguma medida para minizar os conflitos.

;Eu não sei de nada. Sou o vice, mas praticamente nem ando na prefeitura. Sei apenas que o prefeito se prontificou a ajudar no que fosse necessário.;

O vice-prefeito afirmou estar tranquilo e disse não ter tomado qualquer providência em relação às acusações de que seria um dos mandantes da invasão. ;Estou achando é bom porque meu nome agora está na mídia", brincou.

"Já me disseram que o delegado está até pensando em me chamar e eu estou doido para enricar. Vou enriquecer às custas deste delegado [caso seja preso preventivamente]. Quero ficar no mínimo 30 dias preso, tranquilo.;

A reportagem não conseguiu entrar em contato com o vereador Edimundo Pescador.