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Tiro que matou dono de boate foi dado pelas costas

A reconstituição do assassinato do empresário Gustavo Felício da Silva, de 39 anos, na Boate Pantai Lounge, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, feita na manhã de quinta-feira (10/9), reforçou a suspeita da polícia de que o tiro na cabeça da vítima não foi acidental, como alega o suspeito, Leonardo Coutinho Rodrigues Cipriano, de 32. Ao mostrar como ocorreu a morte do sócio, o acusado ficou de pé, e não sentado, como havia dito em depoimento à polícia. O tiro foi disparado a menos de 30cm da cabeça da vítima, que estava de costas para o suspeito. A reconstituição comprovou o que a necropsia havia constatado: o tiro atingiu a vítima de cima para baixo. Na quinta-feira, a delegada Elenice Cristine Batista Ferreira, responsável pelas investigações, pediu uma análise da pistola 380 de Leonardo para saber se ela dispara com facilidade. [SAIBAMAIS] A cena do disparo foi repetida três vezes e Leonardo chorou o tempo todo. O chefe do Departamento de Investigações, delegado Edson Moreira, disse que houve algumas divergências, mas que elas somente serão apontadas no laudo final. O policial disse ser possível que o suspeito tenha agido sozinho. "Mas essa afirmativa só será feita no final. A profundidade das marcas deixadas na escada serão analisadas e veremos se o peso era compatível", disse Moreira. Mais de 50 policiais civis, armados de espingardas e fuzis, chegaram ao local em 12 carros com sirenes e refletores ligados, parando totalmente o trânsito. O suspeito estava em um dos carros da polícia, acompanhado pelo advogado Leonardo Marinho. Dezenas de PMs do Batalhão de Choque isolaram, desde cedo, a frente da boate e a rua lateral O assistente de acusação contratado pela família da vítima, advogado Hermes Guerreiro, já aguardava no local. Na encenação do crime, Gustavo chega e coloca chaves sobre um banco, senta à mesa com o sócio, representado por um policial, e conversam. Depois, a vítima se levanta e fica sentada no caixa, de frente para o salão. O suspeito também entra no espaço do caixa e fica atrás da vítima. Leonardo apanha a arma numa gaveta e, a menos de 30 cm da vítima, que está de costas para ele, faz o disparo. Ainda dentro do caixa, Leonardo amarra o corpo e o leva para o salão, embrulhado numa manta de isolamento acústico. Detalhes O corpo é arrastado para um degrau perto da escadaria de acesso ao andar inferior. Leonardo inclina o carrinho de mão para facilitar a colocação do corpo. Ele desceu as escadas de frente, com as mãos para trás puxando o carrinho de mão, com a vítima dentro, pesando cerca de 90kg. À medida que o pneu ia descendo, a sua proteção frontal danificava a beirada dos degraus, feitos em granito bruto. Para a delegada Elenice, a reconstituição vai demonstrar como os fatos realmente ocorreram. "A reconstituição foi focalizada no depoimento que Leonardo já havia prestado, com um detalhe ou outro que ocorreu aqui e ele não tinha falado. Se o tiro foi acidental ou não, a conclusão a gente só vai ter no fim do inquérito. Ele continua com a versão de que foi acidental", disse. Segundo a delegada, não há nada que justifique um pedido de prisão do suspeito. Outra surpresa para a delegada foi saber que o suspeito havia colocado um saco na cabeça da vítima, quando preparava o corpo. "No depoimento, ele alegou que embrulhou Gustavo todo atrás do caixa. Na reconstituição, ele mencionou que colocou um saco plástico de lixo na cabeça da vítima antes de tirá-la do caixa", disse Elenice. O mesmo perito que esteve na boate quando o corpo foi descoberto escondido, três dias depois do crime, participou dos trabalhos na quinta-feira. "Vamos fazer uma comparação entre o laudo de local, o laudo de necropsia e a reconstituição. Depois dessa análise, vamos ter condições de saber se a posição que Leonardo alega é compatível com a posição do ferimento, como também se a força que ele fez para transportar o corpo para o andar de baixo é compatível com a força exigida", disse Ricardo Osvaldo de Souza. Dúvidas O perito adiantou que a posição do corpo, quando foi encontrado, é compatível com a descrição dada pelo suspeito na quinta-feira. Mas o perito não soube informar se Leonardo conseguiria transportar o corpo sozinho pela escada. "É possível que ele tenha conseguido, mas vamos analisar a questão de peso", acrescentou. O tiro foi disparado a cerca de 30cm da vítima, conforme foi demonstrado pelo suspeito, e as análises vão confirmar se o suspeito falou a verdade. De acordo com o perito, no depoimento o suspeito conta que ele e a vítima se assustaram quando ele foi mostrar a arma. "Mas, na reconstituição, ele alega que a vítima estava sentada, de costas para ele, e, quando ele se voltou para mostrar a arma para a vítima, houve o disparo", acrescentou o perito. O advogado do suspeito, Leonardo Marinho, disse não ter condições de fazer nenhuma conclusão antes do cruzamento de dados e análise técnica pela perícia. "A versão que meu cliente colocou para a defesa foi de tiro acidental e a minha defesa está se estruturando em cima disso", disse. A polícia não reconstituiu o momento em que o suspeito deixou o carro da vítima estacionado na avenida, aberto e com documentos no seu interior, para simular um latrocínio.