Essencial à saúde da mulher, o exame preventivo ginecológico é ignorado por pelo menos 7% das brasileiras. Essa é uma das conclusões da segunda etapa da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira de 15 a 64 anos, divulgada ontem, em BrasÃlia, pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. "É surpreendente que 7% das mulheres nunca tenham se submetido a nenhum exame de prevenção. Vamos fazer um esforço em conjunto, aqui no ministério, para ampliar o acesso a esse procedimento clÃnico", diz Mariângela Simão, diretora do Departamento de Doenças Sexualmente TransmissÃveis (DSTs) e Aids do Ministério da Saúde.
Em novembro do ano passado, o governo entrevistou 8 mil pessoas, em todas as regiões do paÃs, e chegou à constatação de que, quanto mais elevada a classe social, maior é a procura por especialistas. Entre as mulheres que realizam procedimentos preventivos com frequência, 82,1% pertencem à s classes A e B. Nas classes C e D, o percentual é de 58,7%.
Segundo o Ministério da Saúde, estimular as mulheres a realizar exames preventivos poderia evitar milhares de mortes no paÃs. De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de quatro mil mulheres morrem a cada ano vÃtimas de tumor no cólon uterino - uma das doenças que pode ser diagnosticada com o exame de citologia oncótica, popularmente conhecido como Papanicolau. O procedimento também identifica doenças sexualmente transmissÃveis, como sÃfilis, HPV, gonorreia e herpes genital.
A recepcionista Martha Rocha, 37 anos, e a estudante Erani de Souza, 25, integram o time das mulheres que têm o hábito de realizar exames preventivos. "Não é a melhor coisa do mundo fazer um Papanicolau, mas é importante para saber se tem câncer ou alguma doença sexualmente transmissÃvel. Desde os 18 anos venho fazendo diagnóstico e nunca tive nada", relata Martha.
Ela conta que poucas colegas do trabalho fazem os exames preventivos. "Elas não estão nem aÃ", afirma. Erani reprova a atitude das colegas de Martha e garante não descuidar da própria saúde. "Uma vez por ano, venho ao posto de saúde fazer a prevenção", diz.
DSTs
A pesquisa do Ministério da Saúde também revelou que 10,3 milhões de pessoas -13,2% da população brasileira - já apresentaram algum sinal de DSTs. Para se tratar dessas enfermidades, 25% dos homens recorrem às farmácias em detrimento do atendimento médico.
Entre as mulheres, esse Ãndice é de apenas 1%. "O homem não se preocupa com a saúde. Esse percentual dos que recorrem à automedicação é preocupante", alerta Temporão.
Segundo o ministro, o governo preparou uma campanha publicitária para tentar frear a contaminação por DSTs. O ministério vai imprimir 60 mil cartões-postais, que podem ser enviados anonimamente aos parceiros para comunicar a contaminação por alguma doença sexual.
"É uma ação inovadora. A pessoa também pode enviá-lo pela internet (www.aids.gov.br/muitoprazer). Essa estratégia, adotada com sucesso nos Estados Unidos, é uma forma de 'quebrar o gelo'", afirma.
Para a infectologista LÃgia Brito, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, a medida é positiva, embora possa ser inconveniente. "Se de um lado informa o parceiro sobre uma possÃvel contaminação, por outro, por ser anônimo, fica difÃcil de o outro acreditar. E ainda pode causar problemas, caso seja enviado a alguém casado", avalia. Os cartões serão distribuÃdos em postos de saúde e bares.
Ouça entrevista com ministro da Saúde, José Gomes Temporão