O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu início na manhã desta segunda-feira (10/8) às atividades de mobilização em Brasília, que faz parte da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária e deve durar toda a semana. Com cerca de 3.000 sem-terra, o movimento pretende reivindicar promessas de reforma agrária que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, mas, segundo o movimento, não cumpriu.
[SAIBAMAIS]O grupo pede a atualização dos índices de produtividade de propriedades rurais, o assentamento de famílias acampadas, o desenvolvimento de assentamentos e a recomposição do Orçamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que foi cortado."Nenhuma questão foi cumprida", afirmou a coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos. Segundo os representantes do movimento, mais de 150 mil famílias continuam acampadas no país, sendo que 90 mil delas são do MST. Além dos assentamentos, eles pedem que haja um investimento na construção de casas, escolas e da indústria agrária nesses locais para ajudar o desenvolvimento das famílias.
Em 2005, o governo prometeu atualizar o índice de produtividade usado nas terras agrícolas que podem vir a ser assentadas. "O mínimo que o governo pode fazer é atualizar o índice, o que não é feito há 30 anos", afirmou a coordenadora. A representante ainda criticou o corte do orçamento do Incra, que teria sido de R$ 400 milhões. "O Incra não tem recursos para nada. Em alguns Estados, pensa-se em fechar as portas, porque não têm como pagar as contas de luz", disse Marina. O movimento planeja realizar passeatas na Esplanada dos Ministérios para mobilizar o governo a atender às reivindicações. "Muitas das negociações anteriores ainda não chegaram na outra ponta. Famílias continuam acampadas. Pessoal está muito descontente. Esta mobilização é pela efetivação das negociações", afirmou José Batista Oliveira, também coordenador nacional do MST. Já estão previstas duas manifestações em favor da reforma agrária. No dia 14, o MST se reúne na Esplanada junto com entidades sindicais e estudantis para a reivindicação de pautas diversificadas sobre educação, crise financeira e reforma agrária.
No dia 19, os sem-terra se mobilizam junto com representantes de sindicatos dos petroleiros para realizar uma passeata em favor da Petrobras e do petróleo nacional. Inicialmente, a expectativa é que a "jornada" dure uma semana, mas Oliveira admite que pode durar mais caso não notem nenhum avanço na efetivação das reivindicações. "Não pretendemos morar em Brasília, mas a jornada não tem previsão para acabar. Esperamos que o conjunto do governo --algum órgão ou o próprio Lula-- se mobilize para efetivar."
Marcha em Brasília
Acampados em frente ao Estádio Mané Garrincha, os sem-terra vieram de 24 estados do país. Apenas representantes do Amapá, Amazonas e do Acre não tem representantes. No local, há dez tendas para os participantes. Uma para cada região do país, uma tenda central onde vão ser realizados os principais debates e palestras, uma para discussão de temas da Saúde, uma para a recreação das crianças, uma para a exibição de filmes relacionados à militância e uma última para o credenciamento dos participantes. Todos os 3 mil sem-terra, receberam ao chegar um kit com folhetos informativos da "jornada".
A organização do movimento não vai bancar a alimentação de todos. Cada ônibus de participantes se organizou para trazer alimentos e equipamentos de cozinha. Segundo Oliveira, é uma forma de organização completamente descentralizada.
Estados
Luta nacional O MST deu início à mobilização pela reforma agrária em outros cinco estados (São Paulo, Roraima, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Pará). Estão previstas marchas do interior até as capitais dos Estados.
Representantes do movimento também não descartam que sejam realizadas ocupações de terras em alguns desses Estados. Em São Paulo, os manifestantes realizaram uma passeata na avenida Pacaembu, em direção ao estádio (zona oeste), e interditava uma faixa da via, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). O grupo está vindo de uma marcha que teve início em Campinas e chega hoje ao quarto dia. No início da manhã, os manifestantes saíram da região de Osasco (Grande São Paulo) e seguiram para São Paulo pela rodovia Anhanguera, o que causou lentidão na via, afirma a concessionária AutoBAn.