O promotor de Justiça Diaulas Ribeiro, que atua na Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, tornou-se um especialista na gripe A (H1N1). Além do dever de ofÃcio, ele viveu diretamente os efeitos da pandemia. Teve febre na passagem pela Cidade do México, em abril, justamente quando a gripe suÃna foi apresentada ao mundo. Não desenvolveu a doença, mas conheceu de perto os primeiros efeitos da crise.
[SAIBAMAIS]
Hoje, recebe informações online sobre o assunto diretamente de organismos internacionais. No Ministério Público do DF, Diaulas é o responsável por um protocolo que estabeleceu normas para contenção da contaminação.
Assim que uma compra emergencial de álcool gel chegar, ninguém poderá mais entrar no prédio do MP sem higienizar as mãos. A medida já está sendo chamada de Operação Mãos Limpas.
Em entrevista ao Correio, ele afirma que a principal arma contra a gripe é a higiene. Também aplaude medidas do Ministério da Saúde de restrição da comercialização do Tamiflu, usado em casos suspeitos de contaminação pelo vÃrus Influenza A. E adverte: se as estatÃsticas mais pessimistas se concretizarem, o estoque do governo federal não será suficiente para toda a população.
Mão (limpa) na massa
O senhor concorda com as regras do Ministério da Saúde para controle do uso do Tamiflu?
O Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do DF estão agindo de forma correta. A medicação não tem de ser distribuÃda de forma indiscriminada. Tem que haver é disponibilidade da medicação para o paciente com prescrição. O Ministério da Saúde proibiu a venda em farmácia para coibir o uso indiscriminado, que tem riscos imensos. A pessoa pode tomar o Tamiflu e achar que está curada, daà desenvolve uma pneumonia e acaba morrendo.
O senhor acha que as pessoas podem estocar o remédio?
Com certeza. Vão guardar o remédio em casa. E o pior: pode criar um mercado paralelo. Há muitos riscos em pandemias como essa. A população fica desesperada e passa a tomar qualquer coisa, sem nenhum critério. O governo brasileiro resolveu proibir a venda em farmácias, como polÃtica pública. Compra os estoques do fabricante, para assistir a população numa tragédia.
O medicamento será suficiente se as estatÃsticas mais pessimistas se confirmarem?
Se houver uma confirmação de estatÃstica matemática da previsão, 40% da população estará infectada. Não tem remédio para 80 milhões pessoas. É óbvio que não tem. Mas se 80 milhões de pessoas ficarem infectadas, nós estaremos perdidos. Isso seria uma gripe espanhola muito pior. O vÃrus A já fez dois estragos com pandemias, em 1918, com a gripe espanhola, e em 1957, com a gripe aviária. É uma doença que se apresenta a cada 40 anos. A estatÃstica é horrorosa para o Distrito Federal. Mostra que 800 mil pessoas terão contato com o vÃrus.
Isso não significa que todas elas desenvolverão a doença.
Exatamente. Depende muito do sistema imunológico da pessoa. Algumas pessoas terão contato com o vÃrus e não vão desenvolver os sintomas, mas podem transmiti-lo. O que vai mudar o ciclo dessa gripe e destruir a potencialidade lesiva do H1N1 são os nossos hábitos. Se você levar em conta os hábitos de higiene nas outras crises, vai chegar à conclusão que eram muito piores. A humanidade evoluiu muito.
As pessoas têm que ficar neuróticas com limpeza?
Claro. O vÃrus não tem perna nem asas e é mais pesado do que o ar. Não se locomove. Só passa por meio fÃsico.
Existe alguma peculiaridade no Distrito Federal?
Sim. Vivemos num clima seco, já propenso para a gripe sazonal. E aqui há uma quantidade de pessoas em trânsito muito grande por estarmos no centro e na capital. Um dos locais mais expostos do Brasil é o Congresso Nacional. Lá transita gente de todas as partes do paÃs. Essa gripe pode ser o novo bug do milênio.
Ouça trecho da entrevista com o promotor