Aline Moura
Simone Lima
Brasília (DF), Sapé (PB) e Arcos (MG) ; Amado pelos pais, odiado pelos filhos, o toque de recolher em Sapé, a cerca de 50km de João Pessoa, na Paraíba, transformou a rotina dos adolescentes. Os que se arriscam em ficar nas ruas depois das 22h têm de se esconder quando a kombi do conselho tutelar desponta na esquina, às vezes com a retaguarda da Polícia Militar. Isso porque, havendo apreensão, não tem acordo. ;Se eles estiverem nas ruas, a gente leva para a sede do conselho e comunica imediatamente aos pais. Temos de ser duros, porque havia crianças aqui sendo exploradas sexualmente e recebendo R$ 2 por um programa. Agora, mesmo sem termos estatísticas, percebemos que o consumo de drogas e o aliciamento diminuíram em torno de 70%;, conta o presidente do conselho tutelar, Inaldo Laurentino de Oliveira.
[SAIBAMAIS]
Contrariada com a portaria judicial ; que faz parte de uma tentativa de juízes de vários municípios brasileiros de diminuir a violência entre jovens ;, a estudante Karolayne Andrade, 15 anos, acredita que o conselho passa dos limites, ao impor as regras para os maiores de 14. ;Sei que eles devem ter algum motivo para agir assim, mas eu gosto muito de andar à noite e não posso. Quando a gente vê a kombi, tem que se esconder ou sair correndo para casa, parecendo um bicho. Então, a gente pensa duas vezes antes de sair;, reclama a menina. ;Isso é ridículo. Até para entrar numa lan house a gente tem que ter autorização. Eu mesmo já fui levado numa kombi porque estava trabalhando à noite;, completa Ronaldo Pedro Júnior, 15 anos.
Segundo 10 adolescentes ouvidos pela reportagem, chateia não poder mais participar de festas à noite, frequentar shows e entrar em lan houses. Mas os familiares agradecem. A portaria se tornou o braço direito dos pais, que se sentiam sem autoridade para impor limites aos filhos. Segundo a empregada doméstica Joseilma Gomes da Rocha, 34 anos, após o recolhimento obrigatório, ficou até mais fácil controlar o namoro indesejável dos filhos. Na presença de mais quatro mães com a mesma opinião, Joseilma admitiu fazer medo aos três filhos, enaltecendo as ;punições; do conselho em caso de condutas erradas. ;Todas as mães estão adorando esse toque de recolher.;
Falsificação
Mas nem todos se conformam com a restrição de horários. Em Fernandópolis, interior de São Paulo, há casos de adolescentes que falsificaram a carteira de identidade para burlar a norma. <--
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--> Eu acho...
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Saulo Pereira da Silva,
50 anos, vigilante
"Acho uma medida ótima, porque vai diminuir a violência. O que uma criança quer fazer na rua à noite? Só o que não presta. Essa meninada de hoje gosta muito de rua, precisa de um freio mesmo. Defendo o horário das 10h da noite para proibir os jovens de sair."
Amanda Regina Silva,
17 anos, estudante
"Eu acho nada a ver essa lei. Agora querem imitar o que fazem no exterior, colocar horário para gente sair? Temos livre arbítrio para decidir o que fazemos. Desse jeito, estão chamando a gente de ladrão. Os pais é que devem decidir se o jovem pode ou não sair."
Mirlene Matos,
17 anos, estudante
"Isso é da época da repressão, do AI-5. Se o pai deixa o adolescente solto, quem vai dizer que é errado? E outra coisa: não é só jovem que pratica violência, não. Querem dizer agora que a gente é que é culpado por tudo, que a gente é que é desordeiro?"