Jornal Correio Braziliense

Brasil

Temporão: vírus H1N1 circula, mas é possível monitorar avanço

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, descarta mudanças, por enquanto, nos protocolos adotados para exames de pacientes com gripe A (H1N1) e também em relação ao tratamento de pessoas infectadas pelo novo vírus. ;O objetivo não é saber se todos os que têm gripe foram infectados pela influenza sazonal ou pelo novo vírus. O principal objetivo é garantir o tratamento adequado para quem precisar;, disse Temporão, em entrevista ao Correio. O ministro aproveitou para deixar claro como o governo encara o avanço da doença: vai tratá-la com o grau de seriedade que ela pede, mas sustenta sempre que a nova gripe é tão perigosa quanto a comum.

Hoje, qual o principal temor do governo em relação à nova gripe?
Há uma rede estruturada de vigilância e assistência à população. Vale dizer que, desde 2000, o Brasil se prepara para uma possível pandemia causada pelo vírus influenza. Assim, o Ministério da Saúde tem confiança nas medidas que estão sendo implementadas. Elas, até o momento, demonstraram eficácia diante do cenário, como conter durante mais de 80 dias a circulação do vírus no país.

A doença está sob controle? Ou é uma questão de tempo a proliferação do vírus pelo país?

Há um controle sobre a evolução do vírus no país, devido a uma ampla rede de monitoramento. Isso nos permite lançar medidas em tempo real, a cada momento da gripe. Sobre a proliferação, o que temos por enquanto é a primeira evidência de que o vírus circula no país.

Há medicamentos no estoque?
O Ministério da Saúde possui estoque suficiente de medicamento para uso imediato para tratamento dos casos indicados. O Brasil possui em estoque a matéria-prima para 9 milhões de tratamentos, que podem ser encapsulados na medida em que seja necessário ; guardados em tonéis têm uma validade maior.

O número de mortes no Brasil pode chegar ao mesmo patamar do registrado na Argentina?

Não é indicada a comparação da situação no país com a Argentina. Na semana passada, confirmamos a primeira evidência de circulação em território nacional, passados um pouco mais de 80 dias desde o anúncio da OMS da circulação da nova gripe no mundo. No mundo, quando acompanhados todos os casos suspeitos, a letalidade da doença se comportou exatamente como a da gripe comum, ou seja, menos de 0,5% dos pacientes evoluem para óbito. Veja, no entanto, que, enquanto nos meses de julho a gripe comum está associada a cerca de 4.500 mortes de brasileiros, até o momento registramos 33 óbitos por complicações da influenza A (H1N1).

A letalidade tende a aumentar caso o vírus se espalhe para regiões mais carentes ou com sistema de saúde menos eficiente?

A letalidade deve se manter dentro de um padrão. A população deve procurar um médico de confiança ou posto de saúde, ao sentir os sintomas de febre, tosse, dor nas juntas e dificuldade respiratória. Regiões como Norte e Nordeste possuem ampla cobertura de programas como a Saúde da Família.

A redução do ritmo de divulgação de informações e também de realização de exames não pode levar a uma subnotificação?

Não há diminuição no ritmo de informações. Diante do novo cenário, houve uma adequação das atividades das áreas técnicas. Em um primeiro momento, quando trabalhávamos com a contenção dos casos, havia um registro sistemático das pessoas infectadas, para monitorarmos todos os pacientes e seus contatos. Com o indício de circulação do vírus no país, a ação é para organizar a assistência e dar atenção especial aos casos graves. O principal objetivo é garantir o tratamento adequado para quem precisar.

Médicos têm relatado dificuldades para interpretar quais são os casos graves;

A cada nova evidência científica ou recomendação da Organização Mundial de Saúde, temos atualizado o protocolo. O Ministério da Saúde esta atento a todas as novas informações que possam contribuir para a melhora da assistência da população.

Há algum plano de orientação para crianças nas escolas?
Os gestores de escolas e outros estabelecimentos devem consultar as autoridades sanitárias locais para qualquer ação, como suspender aulas. A nossa recomendação é que as crianças que apresentem sintomas de gripe não frequentem a escola neste momento. É importante ficar atento para as crianças, especialmente às menores.

Há motivos para preocupação quanto a uma segunda geração do vírus no Hemisfério Norte?

A OMS declarou que não há indícios de que o vírus esteja se combinando geneticamente com outros, o que, até o momento, mantém certa estabilidade na evolução da doença.

O Brasil estará entre os países que receberão a vacina?

Ainda não existe uma vacina pronta. Ela está sendo colocada como estratégia mundial, mas para um segundo momento. O Instituto Butantã, no Brasil, é um dos únicos laboratórios do Hemisfério Sul que terá a capacidade de produzi-la. O Ministério tem feito contato com os principais laboratórios mundiais em busca de garantir o acesso à vacina. Mas ela não é assunto para agora, pois não haverá tempo para produzi-la em larga escala até o fim do nosso inverno, período de maior transmissão do vírus.