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Com medo da gripe suína, padre só entrega hóstia na mão em Belo Horizonte

O cálice com o vinho estava no mesmo lugar. Assim como a toalha branca e o sacrário. Mas nas paredes ornamentadas já não havia pias de água benta. E nem mesmo a missa da tarde de uma quinta-feira começou como sempre fora. "Como zelamos pela vida, anunciarei as medidas emergenciais adotadas para evitar transmissão da nova gripe", disse, do altar, o padre Jesus Neres, da Igreja da Boa Viagem, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Assim como ele, mais de duas centenas de párocos anunciaram na quinta-feira (23/7) as mudanças nos ritos seculares para prevenir contaminação pelo influenza A (H1N1) entre os fiéis. A recomendação veio da Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte, para as 261 paróquias sob seu âmbito, distribuídas em 28 municípios do estado, que já tem 151 confirmações da doença. Há 20 anos frequentando igrejas, Neide do Santos conta que, pela primeira vez, presencia uma mudança nos rituais católicos. "Se é a favor da saúde, essas medidas são mais do que necessárias. Aqui na Boa Viagem sempre há muitas pessoas e o risco de contaminação é grande. Por isso, aprovo a recomendação da arquidiocese", disse. As modificações, conforme o Estado de Minas divulgou quinta-feira, são: substituição das saudações da paz de Cristo por minutos de silêncio, retirada dos recipientes de água benta e redução na duração das missas de uma hora para 45 minutos. Além delas, o padre Jesus Neres anunciou que o recebimento da hóstia, que por opção era entregue na boca ou nas mãos do fiel, passará a ser feito apenas nas mãos. "Antes, a pessoa optava, mas por precaução, uma vez que o toque nos lábios pode contaminar, o símbolo sagrado será colocado nas mãos daquele que o receberá", explicou. Mudança que, para Neusa Santos, irmã de Neide, não faz diferença. "Antigamente, a pessoa não tocava na hóstia por achar que não tinha a dignidade para isso. Hoje, a maioria dos fiéis a recebe nas mãos", diz, acrescentando que as medidas, por mais que alterem hábitos seculares, não interferem na fé. "O que importa é o sentimento e a crença que carregamos." Mas a água benta vai fazer falta à dona de casa Glória Carvalho. Ela conta que foi curada de um tumor nas mãos pelo poder da líquido abençoado. "Além disso, a saudação da paz de Cristo é um dos momentos de mais calor humano na igreja. Hoje, não temos mais tempo de abraçar um irmão e, por isso, a substituição pelo silêncio não é a mesma coisa", reclama, reconhecendo que as modificações serão por pouco tempo. "Temos que rezar para essa gripe passar logo". De acordo com o padre Jesus, as medidas são emergenciais. "Estamos vivendo um momento de contaminação de um vírus não muito conhecido. É prudente que a Igreja, onde há sempre aglomeração de pessoas, tome essa iniciativa", diz. As irmãs Luíza Francisca, de 22 anos, e Bárbara Francisca, de 24, comparam essas medidas com as que estão sendo tomadas pelas autoridades de saúde. Luíza, que veio da Argentina domingo, diz que desembarcou em Confins, na Grande BH, sem receber nenhuma orientação. "Está havendo uma contradição. Enquanto as entidades tomam cuidados para evitar transmissão, o lugar onde deveria haver maior controle está às moscas", reclama, contando que saiu do território argentino por causa da gripe. "Fiquei seis meses lá, estudando. Mas eles fecharam as universidades por causa das contaminações", conta, ressaltando que um questionário sobre o seu estado de saúde foi entregue a ela assim que saiu de Buenos Aires, mas teve que levá-lo para casa porque não havia a quem entregá-lo em Confins. Escolas Outra rotina que será mudada por causa da ameaça da gripe suína é a volta às aulas. Na quinta-feira, os ministérios da Saúde e da Educação informaram que os alunos que apresentarem sintomas procurem um médico de confiança e, dependendo da orientação, fiquem em casa. Em Belo Horizonte, onde são 103 confirmações da doença, as redes de ensino pública e particular não vão alterar o calendário das aulas neste semestre.