Jornal Correio Braziliense

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Amazônia é um dos principais destinos de refugiados colombianos

A Colômbia já ocupa a quinta posição no ranking dos países com maior número de refugiados no mundo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Em 2008, de acordo com levantamento do Acnur, 34 mil pessoas deixaram o país em busca de melhores condições de vida. Por causa da proximidade, muitas delas escolhem o Brasil como destino. A porta de entrada no território brasileiro é a Amazônia, mais especificamente o município de Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, a 1,1 mil quilômetros de Manaus.

Os dados foram divulgados ontem (16/7), em Manaus, durante a 61; Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Os quatro primeiros lugares no ranking de refugiados são, respectivamente, Afeganistão, Iraque, Somália e Sudão.

De acordo com o oficial de proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), Gabriel Godoy, a América Latina tem um trânsito intenso de pessoas nas áreas de fronteira. No caso específico dos limites entre Colômbia e Brasil, pelas cidades de Letícia e Tabatinga, respectivamente, a facilidade se dá pela ;normalidade; em atravessar as ruas e cruzar a fronteira entre os dois países, sem necessidade de apresentação de passaporte ou qualquer outro documento.

;As pessoas que deixam seus locais de origem o fazem por questões diversas, mas sobretudo buscando melhores condições de vida. Parte delas são migrantes, ou seja, pessoas que realizam o deslocamento espontâneo, podendo ser documentado ou irregular. Os outros são refugiados, que por medo de algum tipo de perseguição, seja por motivo religioso, guerra ou outro qualquer, sentem-se obrigadas a sair de seu país e procurar proteção em outro território;, explicou Godoy.

O levantamento do Acnur comprova que o maior efetivo de refugiados na Amazônia é proveniente da Colômbia. São pessoas se sentem ameaçadas pelas ações de guerrilheiros no país. Entre eles, estão os povos indígenas, afro-colombianos, crianças e mulheres chefes de família. Os números não são precisos porque muitos delas têm medo de pedir ajuda e preferem viver de forma clandestina nas comunidades mais isoladas da região.

A Pastoral do Migrante no Amazonas estima que pelo menos 1,2 mil migrantes, entre eles refugiados, sejam atendidos por ano na instituição. Em maio deste ano, o governo colombiano calculava que mais de 3 milhões de pessoas haviam deixado seus lares. A fragilidade na fiscalização nos rios amazônicos também facilita a entrada de estrangeiros no Brasil pelas vias fluviais - as verdadeiras ;estradas; na Amazônia.

Apesar da procura pela Amazônia, o principal país procurado pelos colombianos não é o Brasil, mas sim a Venezuela. ;É mais fácil para o colombiano reconstruir a vida em lugares que falam a mesma língua que eles, como a Venezuela e Equador. Esses dois países são os que recebem mais colombianos por ano e também têm mais semelhanças com a cultura da Colômbia em relação ao Brasil. Ainda assim, é inegável que a facilidade de trânsito entre Letícia e Tabatinga favorece a entrada dos refugiados no Brasil. São mais de mil quilômetros de fronteira;, acrescentou Godoy.

Para Márcia Oliveira, uma das coordenadoras do Grupo de Estudos Migratórios da Ufam, o Brasil precisa de uma política específica para refugiados. ;Infelizmente, os refugiados não confiam totalmente no Acnur e na Policia Federal e por isso preferem ser clandestinos. Romper com essa invisibilidade é o grande desafio para o Brasil. Governos e sociedade ainda não se conscientizaram do drama que vivem essas pessoas;.

Ainda segundo os dados do Acnur, aproximadamente 25 milhões de pessoas se encontram em todo mundo, hoje, sob proteção da instituição. Desse total, 10,5 milhões são refugiados. O Brasil tem reconhecidos 4,3 mil refugiados.