De uma forma geral, as mulheres brasileiras perderam mais espaço no mercado de trabalho que os homens desde a eclosão da crise financeira internacional, em setembro do ano passado. No entanto, houve crescimento da participação feminina no mercado formal de trabalho, mostra o estudo A Crise Econômica Internacional e os (Possíveis) Impactos sobre a Vida das Mulheres, lançado hoje (2/7) pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do governo federal.
O que parece ser positivo pode, na verdade, sinalizar a precarização do trabalho feminino. ;Os salários de admissão das mulheres foram sempre inferiores aos dos homens no período pós-crise. Essa feminização que se verifica no mercado de trabalho formal pode estar associada a uma substituição de trabalhadores que custam mais por trabalhadores que custam menos;, avalia Luana Pinheiro, gerente de projetos da SPM .
No comércio, por exemplo, as mulheres ficaram com 88,8% das 52.278 vagas criadas entre outubro de 2008. No setor de serviços, a mão de obra feminina ocupou 78,29% dos 126.839 novos de postos de trabalho.
No caso da construção civil, a substituição de homens por mulheres vem ocorrendo tanto no setor formal quanto no informal, embora o segmento ainda represente menos de 1% do total de mulheres ocupadas. A tendência é anterior à crise e, nesse caso, não se deve à diferença salarial.
;A construção civil foi um dos setores que mais se abriu para as mulheres. A gente tem que investigar mais a fundo esse movimento;, afirma Luana, frisando que a SPM já desenvolve um programa de capacitação de mulheres para a construção civil. ;Elas entram muito rapidamente no mercado, especialmente na área de acabamentos de obras, inclusive com salários muitas vezes melhores que os masculinos;, revela.
Outra curiosidade apontada pelo estudo é que o setor onde os homens mais perderam ocupação no período pós-crise foi em serviços domésticos ; a queda foi de 5,66%, contra um recuo de apenas 0,89% na ocupação feminina. ;Isso a acontece porque os homens que estão nesse tipo de serviço fazem atividades muito diferentes das mulheres. Os homens são os jardineiros e caseiros e as mulheres fazem o trabalho de cuidar da casa e dos filhos, que são atividades fundamentais para a reprodução da sociedade;, observa a gerente de projetos da SPM.
A análise dos efeitos da crise econômica por gênero é um avanço na avaliação de Laís Abramo, diretora do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. ;Se homens e mulheres têm posições diferentes no mercado de trabalho, era de se esperar que o impacto da crise fosse diferenciado. É fundamental ter uma análise cuidadosa desses impactos para pensar até que ponto as políticas de enfrentamento da crise devem incorporar elementos para responder a essa situação;, pondera, frisando que a crise se reflete não apenas na perda de empregos, mas na perda da qualidade dos empregos.
A partir de agora, os indicadores serão monitorados bimestralmente pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero da SPM e os resultados embasarão as políticas públicas para as mulheres. ;Essa pesquisa traz direcionamentos para a reformulação das políticas públicas. Por outro lado, nos possibilita aprofundar questões mais específicas que ainda não temos conhecimento;, diz Lourdes Bandeira, subsecretária de Planejamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.