A influenza A H1N1, conhecida como gripe suína, chegou aos corredores do Congresso. E instalou-se no principal gabinete da Câmara: o do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP). A assessoria de imprensa do parlamentar confirmou ontem (30/6) o diagnóstico positivo para o novo vírus de uma funcionária. Ela já se recuperou da doença, mas permanece de licença médica porque ainda apresenta sinais de fraqueza.
A servidora, cujo nome não foi divulgado, tem aproximadamente 30 anos e trabalha na área de Relações Públicas da Câmara. Ela retornou de Buenos Aires em 21 de junho e apresentou os primeiros sintomas no dia seguinte, quando foi para o trabalho. O diretor do departamento médico da Câmara, Luiz Henrique Hargreaves, a afastou das funções e recomendou que ela procurasse a rede pública de saúde.
O resultado do exame com o resultado positivo para o H1N1 saiu na semana passada. A moça fez tratamento em casa, já cumpriu o período de isolamento domiciliar, de sete dias, e retornou ontem ao gabinete. Mas como ainda aparentava cansaço, recebeu mais quatro dias de licença para se recuperar.
A assessoria de imprensa de Michel Temer informou que a funcionária não ficou muito tempo no gabinete quando apresentou os primeiros sintomas e, por isso, teve pouco contato com os demais servidores.
Como nenhum deles apresentou sinais da nova doença, o serviço médico da Casa descarta que o vírus tenha se espalhado. "O período de contágio já passou. Não há chance de a doença se espalhar a partir desse caso. O importante é que não haja pânico. No momento não há razão para isso", tranquiliza Hargreaves. Segundo ele, embora a funcionária ainda esteja afastada do trabalho, ela não precisa mais ficar isolada.
Apesar disso, o clima nos corredores da Câmara era de preocupação. Depois que a informação sobre a funcionária infectada foi divulgada, funcionários telefonavam o tempo todo para o departamento médico em busca de informações.
A notícia pegou a todos de surpresa, inclusive o próprio presidente da Casa, que foi avisado do fato por jornalistas. "No meu gabinete? É mesmo? Desejo melhoras para ela então. Mas não fiquei assustado", disse Michel Temer.
Surpresa também no plenário, já que a notícia pegou os deputados de surpresa. "O assunto está sob controle no Brasil, mas tem que se cuidar. A gripe do porquinho está solta aí", brincou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) reagiu com espanto ao saber que a nova gripe já chegou ao Congresso. "Se passou no gabinete do presidente, onde o controle é maior, imagine o que acontece aqui fora. Deixa todo mundo preocupado", disse. "Realmente assusta. Esse ambiente aqui do Congresso é muito insalubre", avaliou o petista Fernando Ferro (PE).
O Ministério da Saúde confirmou ontem 55 novos casos da doença no país - um deles no Distrito Federal. Com isso, o número de infectados na cidade subiu para 27. Em todo o Brasil, o novo vírus já contaminou 680 pessoas e causou uma morte.
Quase todos os pacientes já receberam alta ou estão em processo de recuperação. Mas ainda há dois em estado grave: um rapaz em Belo Horizonte, de 27 anos, que respira com a ajuda de aparelhos, e uma adolescente de 14 anos, no município de São Gabriel (RS), que está na UTI sem previsão de alta.
Buenos Aires decreta estado de emergência
Com o aumento do número de casos da gripe A H1N1 entre os argentinos, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, decretou estado de emergência sanitária ontem. A medida vale até sexta-feira (3/7).
As férias escolares também foram antecipadas na capital e em outras quatro províncias. Macris pediu que a população tente ficar "o máximo de tempo possível dentro de casa".
O número de mortos pela nova doença na Argentina subiu ontem para 26 - o que coloca o país atrás apenas dos Estados Unidos e do México em quantidade de óbitos. O ministério argentino da Saúde já registrou mais de 1.500 casos.
No Brasil, o Ministério da Saúde mantém a recomendação para que idosos, crianças e pessoas com baixa imunidade evitem viajar para a Argentina e para outros países onde há circulação do novo vírus. No Chile, destino também bastante procurado nessa época, já são mais de 6.200 casos e 12 mortos pela gripe A.
Apesar do avanço da doença pelos continentes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientou ontem os países a manter os esforços para reduzir o impacto da doença sobre a população em vez de fechar fronteiras - o que, na opinião do vice-diretor da entidade, Keiji Fukuda, teria pouca eficácia. Mais de 70 mil casos da doença já foram registrados em todo o mundo.