RIO DE JANEIRO - A busca pelos restos do Airbus da Air France e pelos corpos das 228 vítimas no Oceano Atlântico chega na segunda-feira a sua terceira -e possivelmente última- semana. A prioridade agora encontrar as caixas-pretas e avançar nas investigações sobre o que aconteceu.
O drama do voo AF 447 Rio de Janeiro-Paris, desaparecido entre o Brasil e a África na noite de 31 de maio para 1º de junho, ainda não foi esclarecido, embora a presença de sondas de velocidade defeituosas no avião tenham levantado as primeiras suspeitas.
Até a noite de sábado 49 corpos tinham sido recuperados por barcos das Marinhas de ambos os países, assim como peças importantes do avião, como um fragmento da parte traseira.
A Força Aérea Brasileira informou neste domingo que o número de restos humanos resgatados pelos navios brasileiros era de 43 e não 44, como havia anunciado anteriormente. Outros seis corpos se encontram em uma fragata francesa que também participa das buscas.
Os primeiros corpos já foram transportados para Recife, onde serão examinados por uma equipe de médicos para sua identificação.
Os pedaços do Airbus, expostos em um enorme hangar na base aérea de Recife, sugerem que a queda foi súbita e que não houve uma explosão a bordo, segundo a opinião de especialistas consultados pela imprensa brasileira.
O emissário especial do governo francês para as famílias das vítimas, Pierre-Jean Vandoorne, se reuniu com vários desses familiares no sábado no Rio de Janeiro.
"Sua preocupação principal é recuperar os corpos e entender as causas da catástrofe", disse à AFP o embaixador francês, que neste domingo deverá viajar para Recife para reuniões com os militares brasileiros que realizam as operações de busca no oceano.
Ao final de duas semanas a flotilha franco-brasileira continua efetuando um "pente fino" em uma enorme zona em alto-mar a 1.350 km de Recife.
No entanto, depois dos primeiros dias em que os marinheiros afirmavam navegar "em meio a um mar de destroços", estes últimos ficaram cada vez mais raros, e possivelmente afundaram ou foram dispersados pelas correntes marítimas.
Os militares brasileiros já começaram a mencionar o fim das buscas, que continuarão "pelo menos até o dia 19 de junho", segundo o brigadeiro Ramon Cardoso.
Apesar disso, a busca pelas duas caixas-pretas, que possivelmente estão a cerca 3.500 m de profundidade, devem ser intensificadas.
O submarino nuclear francês "Emeraude" começou a patrulhar a zona onde o avião havia caído, esperando que seus sonares ultrassensíveis captem os sinais que dois gravadores de voo emitem durante um mês.
Outros dois navios fornecidos pela França devem também trabalhar com dois "pingers locators", sonares instalados em um cabo de quilômetros de extensão emprestados pelo Exército norte-americano.
O navio francês de exploração submarina "Pourqoi pas" também chegou à zona de buscas, com um submarino e um robô.
Restando poucos dias para o Salão Aeronáutico de Bourget, o drama levou a empresa europeia Airbus a assegurar que o modelo A330 é "um dos mais seguros já construídos".
A Air France também teve que acelerar a substituição de suas sondas Pitot, instrumentos de medição de velocidade em voo, em seus modelos Airbus A330 e A340, pressionada pelos pilotos e depois de vários incidentes em 2008 ligados a falhas nesses dispositivos.
Depois de ter indicado "incoerências" na velocidade medida por essas sondas no avião desaparecido, o Departamento de Investigação e Análise (BEA, em francês), encarregada das investigações, afirmou que não existe "um vínculo estabelecido" entre essas sondas e a tragédia.
Os diretores da EADS e da Airbus apelaram neste domingo à "prudência" na hora de buscar a explicação do acidente.
"O que ocasiona tal acidente é uma convergência de causas diversas", declarou Louis Gallois, presidente executivo da EADS, casa matriz da Airbus, em um seminário organizado neste final de semana.
"Não sabemos se os Pitot (sondas que permitem medir a velocidade durante o voo) tiveram algo a ver no acidente, ninguém sabe", disse Gallois, referindo-se a declarações do diretor geral da Air France-KLM, Pierre-Henri Gourgeon.
Gourgeon disse na quinta-feira que não estava "convencido de que as sondas sejam a causa do acidente" do voo AF 447.