Pouco mais de nove horas. Este foi o tempo necessário para desestabilizar emocionalmente uma família humilde da Vila Vitória, bairro que fica nas proximidades do São Raimundo, em São Luís do Maranhão. A morte da pequena Maria Vitória de Guadalupe Pires, 5, traz à tona a discussão sobre automedicação de pacientes e as dificuldades de deslocamento enfrentadas pelos moradores de bairros distantes para garantir o acesso à saúde.
Segundo a avó da criança, Elizabeth Alves Pires, o médico da Unidade Mista de Saúde do São Bernardo, onde Vitória foi atendida, teria associado as dores de barriga sentidas por ela a uma infecção generalizada de causa ainda desconhecida. Elizabeth afirma não ter dado qualquer alimento que já não fizesse parte da dieta da menina que, ainda de acordo com ela, sofria com problemas respiratórios.
O corpo de Maria Vitória deu entrada no Instituto Médico Legal (IML) na manhã de segunda-feira (8/6). Atendida na manhã anterior, a menina faleceu ainda na Unidade Mista, que fica distante da casa onde mora a família dela. Por conta do acesso dificultado por inúmeros buracos e pela má conservação das vias públicas da Vila Vitória, teria sido conduzida ao IML somente no dia seguinte ao registro de óbito.
;O motorista da funerária disse que só a levaria para o IML segunda-feira. Ele reclamou do horário e disse que era preciso esperar até 8h. Foi por isso que eu fiquei aqui, em casa, chorando. No final, ele [o motorista] só chegou aqui depois das 9h;, afirma
Polêmica
Procurada por uma equipe de reportagem de uma TV local, Elizabeth Alves Pires se entristece ao perceber que, segundo ela, foi vítima do uso irresponsável das informações concedidas no momento da entrevista.
Abalada, ela fala com lágrimas nos olhos dos efeitos negativos conseqüentes da veiculação do material na imprensa ludovicense. ;Ele [o repórter da TV] veio aqui e depois distorceu tudo o que eu disse;, afirma sobre a edição das imagens.
A reportagem de televisão afirma que a criança teria morrido após ingerir quatro comprimidos de diclofenaco de potássico, conhecido do popularmente como Cataflan. A mãe, porém, alegou que a criança, quando doente, havia sido medicada apenas com um genérico de Luftal, porque tinha gases.
Segundo Elizabeth, o material em questão dá a entender que ela teria dado de propósito uma medicação inapropriada à própria neta. ;Nunca faria isso. Para onde eu olho eu a vejo. Sou contra os maus tratos à crianças e idosos e, acima de tudo, eu a amava;, afirma entre soluços e lágrimas no sofá azul da pequena sala da Vila Vitória.