postado em 10/06/2009 08:51
A poeira de uma das regiões mais áridas do mundo provoca chuvas na maior floresta úmida do planeta. Uma pesquisa publicada no mês passado na revista científica Nature Geoscience mostra que o material que sai do Saara e atravessa o Atlântico está ligado diretamente à intensidade da precipitação na Amazônia. Todo ano, entre fevereiro e abril, a areia suspensa por tempestades no deserto sai da África, cruza o oceano e alcança a América.
Em processos já conhecidos, ela influencia o clima e até a biodiversidade do Atlântico. Mas até agora não havia sido ligada com tanta propriedade às chuvas na região tropical americana.
O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo, explica que a poeira do Saara apresenta características que favorecem o aparecimento de cristais de gelo nas nuvens convectivas - que, na Amazônia, respondem por 90% da chuva. Essas nuvens se formam na alta atmosfera, de 15 a 18 quilômetros de altura, e são feitas de gelo.
Nem toda partícula em suspensão tem a capacidade de nuclear cristais de gelo. O material do deserto, contudo, é rico em ferro. Quando está em alta altitude, o ferro tem a capacidade de condensar vapor d;água sobre ele, compondo então as nuvens convectivas.
O cientista acredita que, ;em uma escala de tempo de milênios, eles até podem ajudar a explicar a exuberância da Amazônia;. Artaxo também está curioso sobre o efeito das mudanças climáticas no mecanismo. Estudos indicam que o Saara pode ficar ainda mais seco - o que pode se traduzir em mais chuva na Amazônia e contradiz projeções para o futuro da região.