O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investigou na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a atuação das milícias no Estado, Marcelo Freixo (PSOL-RJ), destacou que ações na esfera da polícia são importantes, mas não são capazes de acabar com o crime de milícia no estado.
;A ação da polícia é importante, mas o que a polícia vai fazer é prender como ocorreu hoje. É importante uma reação articulada do Estado para que os negócios, tão lucrativos e rentáveis, não fiquem nas mãos dos milicianos;, destacou o deputado, se referindo à ação da polícia do Rio para prender 66 integrantes da organização criminosa que controlava comunidades na região oeste do Rio de Janeiro.
De acordo com dados colhidos pela CPI, só no domínio das vans em Rio das Pedras, na Zona Oeste, onde atua uma das milícias mais antigas e mais tradicionais do Rio, o faturamento era de de R$ 170 mil por dia. ;É preciso tirar das mãos dos milicianos o controle das vans, da distribuição de gás, o desvio de TV a cabo e uma infinidade de negócios que rendem muito e acabam atribuindo poder econômico e político aos chefes das milícias;, disse o deputado.
A atividade de milícia ocorre no Rio de Janeiro há nove anos e é crescente. No final de 2006, a polícia apontava 92 áreas sob domínio de milícias. Quando os trabalhos da CPI foram concluídos, em dezembro passado, já havia 171 áreas sob domínio de milicianos. Números apresentados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro à Comissão de Direitos Humanos do Senado apontam atualmente 198 comunidades dominadas por milícias.
Para Freixo, o que mais preocupa é a inserção política dos milicianos nas esferas de poder do Rio de Janeiro. ;Esses grupos tem um elemento a mais que é o que mais nos preocupa. Eles saem da esfera econômica, da dominação territorial e vão para as esferas de poder. Começam não só apoiar alguns candidatos, mas também os próprios donos de milícias começam a se candidatar e são eleitos vereadores, deputados;, destacou Marcelo Freixo, em depoimento na Comissão de Direitos Humanos do Senado, que realizou uma audiência pública para tratar do problema.
Ele destacou que o ano de 2009 é crucial para o combate aos grupos. ;O próximo ano é ano eleitoral. Muitos grupos de milícia já têm seus candidatos a deputados estaduais para o próximo ano. Tem grupo aí com anseio de chegar ao poder executivo municipal e estadual;, alertou.
;Hoje, o Rio de Janeiro tem dois vereadores claramente envolvidos com a ação de milícias. Falo de dois que estão indiciados pelo relatório. Temos outros vereadores de outras cidades do Rio de Janeiro. Tínhamos um deputado estadual claramente vinculado à milícia mais poderosa, a conhecida Liga da Justiça. Hoje ele se encontra preso e condenado;, destacou, se referindo a Natalino José Guimarães, ex-deputado estadual que foi preso no ano passado.
O debate na Comissão de Direitos Humanos do Senado teve o objetivo de alertar os senadores de que o problema da atuação de milícias, embora concentrado no Rio de Janeiro, tem potencial para se instalar nas demais capitais brasileiras. ;É importante que esse debate seja feito por todo estado brasileiro e não só pelo Rio de Janeiro. As condições que levam o Rio de Janeiro hoje a ter uma situação dramática em relação à ação das milícias, são condições semelhantes ás encontradas em outros estados. Recentemente tivemos a Policia Federal prendendo 26 pessoas em Pernambuco, um líder era vereador e acusado de chefiar a milícia", afirmou.