Cerca de 200 moradores da comunidade Vila Reis, na Zona Leste de São Paulo, realizaram ontem de madrugada um protesto contra a morte de Sérgio dos Santos, 38 anos, encontrado enforcado dentro de uma cela do 63º DP (Vila Jacuí), depois de ser preso sob a acusação de tráfico de drogas. A Secretaria de Segurança Pública alega que Santos cometeu suicídio, mas parentes e amigos contestam a versão. Durante a manifestação, uma pessoa ficou ferida, um ônibus foi incendiado e outros quatro, depredados.
Por volta da meia-noite, os manifestantes atacaram veículos da Viação Vip Transportes, que estavam estacionados no ponto final, na Avenida Maria Santana. De acordo com o delegado Elton Richard Krull, do 63º DP, dois homens numa moto e um grupo de adolescentes a pé abordaram o cobrador de um dos coletivos, anunciaram o ataque e atearam fogo no ônibus. O fogo se alastrou por uma árvore, atingiu a guarita do ponto e uma casa.
O grupo ainda montou uma barricada, com lixo e entulho, na via. Outros quatro coletivos foram danificados, mas ninguém se feriu. Por volta de 2h30, policiais da Rota, do Grupo de Operações Especiais (GOE), do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) foram acionados para conter a manifestação.
Na ação, um rapaz de 17 anos foi atingido por um tiro na perna e encaminhado para o Hospital Municipal Tide Setúbal. ;Estou bem, mas os policiais atiraram em mim e me deram uma coronhada na cabeça;, disse o menor.
Irmã acusa
Segundo Krull, uma denúncia anônima levou a polícia até Santos, preso na terça, às 16h30, em sua residência. A polícia afirma que, em poder dele, foram encontrados cinco pinos de cocaína e, no interior da casa, mais 21 pinos e R$ 270.
Marli dos Santos, 32 anos, irmã do acusado, acusa os policiais de armarem o flagrante. ;Três homens pegaram meu irmão. Um deles tirava a droga do bolso e colocava na mesa. Aí, fui posta para fora da casa.;
Santos foi levado ao DP e colocado numa cela provisória, onde horas mais tarde teria sido encontrado enforcado. A versão da polícia diz que ele pegou o cadarço do tênis, que estava do lado de fora da cela, e se matou. Amigos afirmam que Santos não tinha motivos para acabar com a vida. A família questiona como ele conseguiu o cadarço, uma vez que os pertences do preso são entregues aos familiares.
A morte de Santos na carceragem do 63º DP é a quarta em celas de delegacias da capital desde que o lutador de jiu jitsu Ryan Gracie foi encontrado morto em 14 de dezembro de 2007 ; outros casos foram registrados no 10º DP e no 72º DP.
Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep), do Ministério Público Estadual, vão acompanhar as investigações do caso.