Os dados sobre distúrbios alimentares entre homens ainda são escassos, assim como a oferta de serviços especializados. Um dos poucos locais a abrir as portas para esse público, o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP) tem atendido a uma demanda reprimida - atualmente, 30 homens passam por tratamento no local, a maioria entre 17 e 22 anos.
Em 2008, o IPq atendeu 563 pacientes com transtornos alimentares: 104 do sexo masculino, o equivalente a 18% dos atendimentos. Segundo especialistas, a procura por atendimento está crescendo no País.
O Programa de Orientação e Assistência aos pacientes com Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) atendeu cerca de 180 pessoas no ano passado: 15 eram homens. ;Uma das dificuldades é o preconceito em aceitar ser portador de uma doença conceituada erroneamente como exclusivamente feminina;, explica o psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, do Ambulim.
Boa parte dos que conseguem chegar ao atendimento, segundo ele, são portadores da anorexia nervosa atípica - apresentam parte dos sintomas clássicos da doença, como perda exagerada de peso, recusa em ingerir alimentos e episódios de depressão.
;Nos últimos anos vivemos uma mudança no padrão de beleza masculino, mesmo processo que aconteceu com as mulheres décadas atrás. O corpo esguio, com músculos definidos, passou a ser mais cobrado dos homens;, afirma a psiquiatra Paula Melin, do Núcleo de Transtornos Alimentares e Obesidade (Nuttra), no Rio. ;Um dos inúmeros dados que mostram concretamente essa mudança é o aumento de anúncios e artigos sobre beleza e tratamentos estéticos nas revistas masculinas;, diz.
Além disso, proliferam clínicas de estética para homens, lançamentos de cremes para a pele masculina e procura por cirurgia plástica. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostram que, entre 2007 e 2008, foram realizadas mais de 55 mil cirurgias plásticas em homens - entre lipoaspiração, rinoplastia e colocação de prótese de silicone nas pernas e no peito. A psicóloga Christina Morgan, do Proata, também observa crescimento da procura masculina por tratamento. ;O homem tornou-se também objeto da cultura do corpo, do descartável, da imagem;, diz.