Jornal Correio Braziliense

Brasil

Estudantes passam, em média, menos de 4h por dia na escola

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Menos de três horas. Esse é o tempo que os brasileiros de até 17 anos passam, por dia, nas salas de aula. O dado alarmante foi divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) que, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), calculou a permanência dos estudantes na escola. Se as crianças com menos de 4 anos são retiradas da contabilidade, o número de horas passa para 3,47. Mesmo assim, é menos que os 240 minutos diários estipulados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Enquanto, em média, nos países integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) 45,7% dos estudantes ficam mais de quatro horas na escola, no Brasil, o índice cai para 31,4%. Para o economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, os dados sobre a permanência na escola mostram que a educação não está universalizada como se pensa. ;A frequência escolar separa, de maneira discreta, os alunos matriculados dos evadidos. Por exemplo, é verdade que apenas 2,5% das crianças de 7 a 14 anos estão fora da escola. Agora, isso não significa que o problema de evasão nessa faixa etária esteja realmente superado;, diz. ;O tamanho desse déficit escolar aumenta para 17,7% quando agregramos as faltas e a jornada escolar insuficiente das nossas escolas;, destaca. O Distrito Federal ocupa o primeiro lugar no ranking do tempo de permanência nos colégios (veja quadro). Mesmo em Brasília, no entanto, os estudantes sofrem com faltas constantes dos professores e ameaças de greves. Às 14h30 de ontem, os alunos do turno vespertino do Centro de Ensino Fundamental 24, em Ceilândia, foram dispensados. O motivo foi uma reunião, mas, de acordo com os estudantes, eles ficam sem aulas com frequência. Ludmilla Costa Mendes, 12 anos, reclama que, pelo menos uma vez por semana, a turma da 6ª série fica sem uma aula. ;Os professores faltam e aí colocam todo mundo na quadra de esportes;, diz. A colega Ruth da Silva Costa, 12, diz que se sente lesada em comparação aos estudantes da rede particular. ;É muita perda de tempo;, acredita. Da mesma idade, Ludmilla Costa Mendes conta que, não à toa, no fim do ano, parte do conteúdo acaba ficando sem explicação. No estudo, Marcelo Neri constatou que alguns fatores influenciam o maior ou menor tempo passado na sala de aula. As mulheres ficam mais que os homens (3,87 horas, contra 3,83), embora entre as mães adolescentes o índice despenque para 0,87 hora. A renda também é determinante: enquanto a parcela dos 20% mais ricos permanece 4,35 horas, os 20% mais pobres ficam somente 3,56, na faixa de 4 a 17 anos. Os brancos também estudam mais tempo que os pardos: 3,97 horas diárias contra 3,74. Presente na abertura do Seminário Metas da Educação, onde foi apresentada a pesquisa, o ministro da Educação, Fernando Haddad, reconhece que a permanência dos estudantes na sala de aula é insuficiente e defende o estudo em dupla jornada. ;Sou francamente favorável ao segundo turno sob a responsabilidade da escola, mas não necessariamente dentro da sala de aula. Estamos instalando banda larga nas escolas e investindo no programa Mais Educação. São expedientes que vão oferecer às escolas oportunidade de estender a jornada com atividades culturais, recreativas, esportivas;, diz.