Jornal Correio Braziliense

Brasil

Ataques a mulheres chocam Minas Gerais

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A onda de violência contra mulheres que se abateu esta semana sobre Minas Gerais reacende um medo que, desde 1999, não se via, quando 12 foram assassinadas somente na Região Noroeste de Belo Horizonte, além de cinco que continuam desaparecidas. Desde domingo (12/4), várias mulheres foram mortas na capital e no interior. Na noite de quinta-feira (16/4), três assassinatos engrossaram a triste estatística: a administradora de empresas Ana Carolina Assunção, de 27 anos, foi executada dentro de seu carro, ao lado do filho de 1 ano e dois meses, em Contagem, na Grande BH. Em Sete Lagoas, na Região Central do estado, o corpo da estudante Ramaiane Rezende de Souza, de 19, foi encontrado na Lagoa Grande com sinais de estrangulamento. No mesmo horário, Priscila Gonçalves de Almeida, de 26 anos, foi executada com 17 tiros, no Bairro Santa Terezinha, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ontem, no início da noite, Valéria Paula da Silva, de 18, foi executada a tiros na Favela da Luz, na Região Nordeste da capital. No domingo, os 11 mil moradores de Lagoa Dourada, no Campo das Vertentes, choraram a trágica morte da vendedora Amanda Glívia Vale, de 19, que foi estuprada e teve as mãos decepadas. Na segunda-feira, a estudante de biologia Júnia Aparecida da Silva, de 20, foi encontrada com o corpo mutilado, perto de um bota-fora em Ibirité, na Grande BH. A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não sabe dizer quantas mulheres foram mortas nos últimos anos em Minas, porque o sistema de dados que permite a realização desse tipo de pesquisa não está implantado no interior. Mas, números da Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV), da Polícia Civil, mostram que, este ano, 21 mulheres já foram assassinadas apenas na capital. O volume é semelhante ao registrado nos anos anteriores. Entre janeiro e meados de abril de 2008 foram 22 mortes, mesmo número de 2007. Latrocínio Ana Carolina será sepultada às 9h deste sábado, no Cemitério Parque Renascer, em Contagem. O corpo foi encontrado seminu no banco traseiro do Palio Weekend. Ela foi estrangulada com o cadarço do tênis e, possivelmente, estuprada. O filho de 1 ano e dois meses não foi agredido e dormia sobre o peito da mãe, manchado com o sangue que escorria do nariz de Ana Carolina. A polícia, que até ontem à tarde não tinha identificado os assassinos, trabalha com as hipóteses de sequestro, latrocínio (roubo seguido de morte) e estupro. A família deu falta do celular, mas R$ 210 foram achados sob o banco e o aparelho de som do carro também não foi levado. A administradora desfrutava da melhor fase da sua vida, segundo os parentes. Ela estava feliz com o casamento de três anos e encantada com o filho, que aprendia as primeiras palavras e a chamava de mamãe. A loja de confecções femininas que abriu há um ano com a mãe também é um sucesso e permitiu a ela, inclusive, trocar o carro que comprou de segunda mão por um Palio Weekend novo. Ontem, Ana Carolina tinha viagem marcada para São Paulo, onde visitaria a irmã mais velha e compraria roupas para a loja. Ela iria com o marido, o filho e a mãe, mas acabou fazendo outra viagem sozinha, e sem volta. O drama da família de Ana Carolina começou por volta das 18h de quinta-feira. Ela foi com o filho buscar a mãe na loja, no Bairro Industrial, na Região do Barreiro. A mãe, que já tinha fechado o estabelecimento, esperava do lado de fora e estranhou o carro de Ana Carolina passar direto, não dando para ver quem dirigia. A mãe voltou a pé para casa, onde morava toda a família, a dois quarteirões da loja, e perguntou por Ana Carolina ao genro, preocupada com ela. O marido ligou para o celular da vítima e ela disse que estava tudo bem, que havia chegado em casa, o que não era verdade. O irmão da administradora, Jair Vinícius Menezes Assunção, de 22, foi avisado da suspeita de sequestro relâmpago e também telefonou para ela, que repetia o tempo todo que estava bem. O irmão insistiu e Ana Carolina falou que estava na Praça da Cemig e que não demoraria a chegar em casa. ;Coincidentemente, naquela hora eu estava passando pela Praça da Cemig e ela não estava lá. Insisti e ela me mandou não perguntar muita coisa;, contou o irmão, que durante a ligação ouviu vozes masculinas dizendo para Ana Carolina andar mais rápido. ;Tudo estava muito confuso e não tive como perceber mais nada;, contou o rapaz à polícia. Depois de 20 minutos, o telefone foi desligado. O carro foi encontrado mais tarde na Avenida Governador Benedito Valadares, no Bairro João Pinheiro, na marginal da Via Expressa, local deserto e de pouca iluminação.