Nem o câncer de mama nem a possibilidade de contrair o vírus da Aids afligem a mulher brasileira tanto quanto o temor de ser agredida em casa pelo companheiro, pelos filhos ou pelos netos: 56% das entrevistadas em uma pesquisa do Ibope disseram ter temer mais a violência doméstica do que graves problemas de saúde. A preocupação com o aumento dos casos de Aids (51%) ocupa o segundo lugar na lista de preocupações das mulheres, seguida pela violência urbana (36%) e pelos cânceres de mama e de útero (31%).
O estudo foi feito em parceria com o Instituto Avon. O levantamento, denominado Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, ouviu cerca de 2 mil pessoas em todas as regiões do país, entre 13 e 17 de fevereiro.
Para a promotora de Justiça e professora de direito penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Eliana Vendramini, a preocupação com a agressão em casa dá a dimensão de como a mulher sofre. ;A violência doméstica dói mais do que uma doença física, porque é uma surpresa diária e se manifesta de vários modos.; Ela acredita que, mesmo diante de uma enfermidade, a mulher pode ter ;paz de espírito; para buscar ajuda, o que não ocorre com a vítima agredida.
Omissão
O levantamento mostra que 55% dos entrevistados conhecem pelo menos um caso de violência doméstica. Desses, 39% disseram já ter colaborado com a vítima de alguma forma, seja por meio de conversas e orientação para a busca de apoio jurídico ou policial; enquanto 17% preferiram se omitir. A maioria dos entrevistados (56%) não confia na proteção jurídica e policial à vítima. ;Quando a mulher fala que é ameaçada, o policial acredita ser uma briguinha de casal. Mas para uma mulher denunciar o pai de seus filhos, ela tem que romper com uma série de barreiras;, disse a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.