No fim da tarde de terça-feira (7/4), a estudante de administração Natália Soares, de 21 anos, dá um gole no copo de cerveja e traga o décimo cigarro do dia. Até o fim da noite, terá consumido um maço. Ela ilustra bem o perfil do morador de Belo Horizonte que está bebendo e fumando cada vez mais.
É o que aponta a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel-2008) divulgada pelo Ministério da Saúde (MS). O estudo, feito por amostragem, no ano passado, com 54 mil pessoas, mostra o perfil dos brasileiros nos hábitos alimentares, tabagismo, consumo de álcool, prevenção de doenças, excesso de peso e obesidade.
E a capital mineira desponta como um dos municípios com maior chance de a população apresentar câncer de pulmão e outros problemas de saúde. Um dado que preocupa os especialistas é que as mulheres de BH estão fumando quase a mesma quantidade que os homens. E a tendência é aumentar. Em 2008, a média brasileira de fumantes era de 15, 2%, enquanto a de BH alcançou os 19,3%.
A história não é diferente no consumo de álcool e os moradores de BH, novamente, beberam mais que a média nacional (19%), ficando com 20,8%. E no ranking das capitais, 12,5% das mulheres de BH enchem o copo e aparecem em terceiro lugar na lista nacional. Elas só ficam atrás do público feminino de Salvador, com 15,9% e do Rio de Janeiro, com 13,8%.
A pesquisa mostra que essa realidade é uma tendência no Brasil. Em 2008, o percentual de pessoas do sexo feminino que beberam demais foi de 10,5%, enquanto que, nos anos anteriores, os indicadores foram menores, sendo de 9,3% em 2007 e de 8,1%, em 2006.
Para o estudo, foi considerado abusivo o consumo de mais de quatro doses de álcool para as mulheres e mais de cinco para homens na mesma ocasião, evento ou festa, nos últimos 30 dias. A avaliação considerou como dose de bebida uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilados como uísque ou vodka. Mesmo com os dados, a estudante Natália Soares não está disposta a parar de tomar cerveja: "Gosto de ir para os botecos com os amigos. É o que há de melhor para fazer na cidade".
Já os homens não surpreenderam e ficaram dentro da expectativa. Mesmo assim, 30% da população masculina de BH abusa do álcool. A coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta, diz que o levantamento foi feito por telefone e mostra um traço perigoso e explosivo na mistura do álcool e volante. Para ela, apesar da divulgação e campanhas da Lei Seca, iniciada em junho passado, o brasileiro parece ter se esquecido da legislação.
;A luz amarela está acesa. O estudo mostra que os motoristas voltaram a beber e dirigir com mais frequência nos últimos seis meses, se comparado aos primeiros meses da Lei Seca. Isso mostra uma reversão na tendência inicial de queda no número de pessoas que declararam pegar o volante depois de ingerir bebida alcoólica. Por isso, a campanha de conscientização sobre o perigo de conduzir um veículo alcoolizado será retomada. E, claro, lembrar à população das punições;. Deborah adianta que o MS vai propor a ampliação de um plano de ação conjunta com os ministérios da Justiça e das Cidades para a prevenção da acidentes de trânsito depois do consumo de álcool.
Em junho do ano passado, 1,9% dos entrevistados afirmaram beber e dirigir. Já em novembro, o percentual atingiu os 2,1% e, em dezembro, 2,6%, voltando aos patamares de 2007. Em 2009, os percentuais se mantiveram nos níveis anteriores à Lei Seca, chegando a 2,2% em março. Entre a população pesquisada, que admitiu consumo abusivo de álcool, o percentual de homens é 10 vezes (3%) maior que o de mulheres (0,3%).
A prática de dirigir depois do consumo de bebida alcoólica alcança maior frequência na faixa etária entre 25 e 34 anos (4,0% dos homens e 0,7% das mulheres). A avaliação também mostra que a ingestão de álcool associada ao hábito de dirigir aumenta conforme a escolaridade: é maior entre as pessoas do sexo masculino, 5,6%, contra 0,9% das mulheres. O Vigitel mostra também que os percentuais de pessoas que declaram beber abusivamente e dirigir variou de 0,7% em Porto Alegre a 3,3% em Boa Vista. BH ficou na média, com 1,8%.
Obesidade
Os homens brasileiros estão mais gordos que as mulheres. Ou seja, dos 43% de pessoas com excesso de peso, 47,3% são homens e 39,5% são do público feminino. E BH, com 44% de gordinhos, segue a tendência nacional: eles respondem por 46,5% e elas por 41,5%. Já no quesito obesidade, 12,1% da população de BH é obesa.
Pouco antes de devorar um hambúrguer recheado com queijo, ovo e bacon, na Praça da Savassi, o auditor Magno Eustáquio do Carmo, de 44 anos, admite: não vê a hora de voltar aos 82 quilos, seu peso ideal. Hoje, com 98 quilos, ele atribui seu excesso de peso à uma disfunção da tireóide.
Ele afirma que vai ao médico regularmente para tentar voltar a ser magro: "BH tem relevo muito acidentado, o que desestimula a pessoa de caminhar e fazer exercícios. Em cidades praianas a realidade é outra". Ele garante que o sanduíche da tarde de terça-feira é exceção. Mas admite que almoça e janta todos os dias.
"Às vezes meu pai janta à noite e o acompanho, mas minha alimentação durante o dia é bem balanceada", diz a estudante Jéssica Nunes, de 17, que diz preferir hortaliças no almoço e frutas de manhã e à tarde, assim como a irmã Karine Nunes, de 18.
Quase a metade das mulheres de BH que responderam à pesquisa disseram manter hábito semelhante ao das meninas. A capital mineira registrou o terceiro melhor percentual (45,3%) de pessoas que têm hábito de comer hortaliças e frutas todos os dias, atrás apenas de Florianópolis (48,5%) e Curitiba (46,4%).