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Carta de jovem morta em SP revela humilhação e ameaças impostas por ex-marido

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;Ele não trabalha, não sente vontade de trabalhar, não terminou a escola. É hoje muito violento, me humilha, me xinga, me ameaça e me bate;. É assim que Ana Cláudia Melo da Silva, de 18 anos, morta no último domingo (22/3) dentro do apartamento onde morava com o filho, um irmão e um tio em São Paulo, falou sobre o marido em uma carta escrita para a mãe em outubro, pouco antes de abandonar Janken Ferraz Evangelista, 29 anos. A carta foi divulgada por parentes de Ana Cláudia. Nesta terça-feira (24/3), o Ministério Público pediu a prisão preventiva de Evangelista e apresentou denúncia por homicídio qualificado. A jovem relata que Evangelista e a sogra, com quem foi morar ao lado do marido na Bahia, na cidade de Teixeira de Freitas, ;apreenderam; todos os documentos do filho Gabriel, e que ela tem dificuldade de arrumar atendimento médico para o menino por causa disso. A recepcionista conta que logo que chegou à Bahia, arrumaram um emprego para ela. Por conta dos problemas com o marido, Ana Cláudia procurou ajuda no Conselho Tutelar da cidade e um psicólogo da Prefeitura recomendou que fossem morar sozinhos. Na nova casa, ela diz que pagava todas as contas e que era quase uma prisioneira do ex-jogador. ;Hoje minha vida é só meu filho, meu trabalho, minha igreja e minha escola. Não saio de casa, esses são os...;, diz a carta, que termina sem a frase ser concluída. Ana Cláudia conheceu Evangelista aos 15 anos, quando vivia com a mãe na Penha, na Zona Leste da capital. Na época, ele era jogador de futebol. Pouco depois ela engravidou, mas continuou a viver com a mãe. Depois que o filho nasceu, Ana Cláudia se mudou com a mãe para Piraju, a 328 quilômetros da capital paulista. Quando Evangelista abandonou São Paulo e voltou para Teixeira de Freitas (BA), convenceu a jovem a ir com ele, em maio de 2008. Ana Cláudia havia registrado um boletim de ocorrência (B.O.) contra ele em 17 de novembro de 2008, em Teixeira de Freitas, na Bahia. O B.O. foi feito no mesmo dia em que Ana Cláudia abandonou o marido e fugiu com o filho para São Paulo. Na ocorrência, ela afirma que apanhava do marido, e diz que levou uma cotovelada nas costas e um soco no braço direito, no dia anterior. Ela relata também ameaças e humilhações. Ele teria dito que, se ela fosse embora, faria da vida dela ;um inferno e iria destruí-la.; Ana Cláudia não chegou a fazer o exame de corpo delito para confirmar as agressões. Ela fugiu no mesmo dia, aconselhada por uma advogada, pois não tinha um local seguro para ficar e despertaria a fúria do marido com a acusação na polícia. Pouco tempo depois, Evangelista veio para São Paulo. ;Janken sempre se revelou um rapaz inseguro, com alto nível de ansiedade, dependente emocional da mãe (de quem sempre teve total apoio). Possuidor de uma personalidade autoexigente, perfeccionista, manipulador, tentava a todo custo modelar o comportamento de Ana Cláudia, depreciando sua imagem, humilhando-a, procurando desestruturá-la para conseguir provar que ela não tinha competência para cuidar do filho.; A análise foi feita pela psicanalista Edna Silvana Lacerda Pereira, da Prefeitura de Teixeira de Freitas, na Bahia. A psicóloga acompanhava o casal depois que Ana Cláudia foi ao Conselho Tutelar da cidade pedir ajuda por conta das recorrentes brigas com o marido. ;Janken sempre a tratou como criança, sem direitos nenhum;, diz o relatório, escrito em 21 de novembro de 2008. O documento aponta ainda forte participação da mãe do rapaz na vida do casal. A sogra da jovem disputaria com ela o papel de mãe de Gabriel. Familiares de Ana Cláudia confirmam o temperamento imaturo de Janken. "Quando ela engravidou, Janken sugeriu que ela abortasse, mas não aceitamos. Depois que Gabriel nasceu, ele demonstrou gostar da criança, mas nunca foi um pai presente. Quem arcava com as responsabilidades era a mãe", afirma João Lourenço da Silva, tio de Ana Cláudia. Procurado por Janken Evangelista, que queria o direito de ver o filho, o conselheiro tutelar João Toledo, que trabalha na Regional do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, foi responsável por intermediar um encontro entre os pais da criança, com o objetivo de que as duas partes entrassem num acordo. ;Ele procurou o Conselho no fim de 2008 e passou a vir quase diariamente. Aparentava ser um pai que sofria, com muita saudade do filho, chorava algumas vezes, mas também deixou transparecer que tinha ciúme da ex-mulher;, diz Toledo. No mês passado, Ana Cláudia e Janken ficaram frente a frente, quando o conselheiro quis falar com os dois, sobre a situação de Gabriel. Segundo familiares de Ana Cláudia, essa foi a primeira vez que o casal se encontrou, depois que a jovem fugiu da Bahia com o filho. ;Naquele dia, quando os atendi na minha sala, Janken demonstrou ciúmes e começou a provocar Ana Cláudia, mas ela não lhe deu atenção. Tive que sair por alguns instantes e, quando voltei, ela estava chorando, dizendo que tinha sido ameaçada por ele na minha ausência;, diz o conselheiro. Segundo Toledo, na ocasião Janken jurou ;pela vida do filho Gabriel; que não havia ameaçado a ex-mulher, o que revoltou Ana Cláudia. ;Ela retrucou ;pelo meu filho, não. Jure pela sua mãe;;, diz Toledo.