Está em curso a sessão do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo que analisa o pedido do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá para não ser julgado por júri popular. O recurso foi apresentado pelos advogados de defesa do casal, cuja estratégia é adiar ao máximo qualquer decisão da Justiça sobre o caso, e será julgado pelos desembargadores Luis Soares de Mello, Euvaldo Chaib e Salles Abreu, da 4ª Câmara Criminal.
O primeiro a falar foi o advogado de defesa Marco Polo Levorin. Ele ocupou a tribuna por 49 minutos e tentou, principalmente, inocentar Anna Carolina Jatobá de participação no crime, afirmando que não houve esganadura.
Segundo ele, os laudos feitos pela polícia são confusos e não provam sequer se houve asfixia, muito menos que ela teria sido provocada por esganadura por Anna Carolina Jatobá. Para a polícia, Anna Carolina esganou a menina e Alexandre Nardoni a jogou pela janela.
"Há uma babel, uma confusão nos laudos técnicos", afirmou o advogado.
Para ele, Isabella não foi esganada antes de ser lançada pela janela do apartamento do pai e da madrasta, no dia 29 de março do ano passado. O que causou a morte da menina, acrescentou, foi a queda pela janela do sexto andar.
"Se houve asfixia, ela foi provocada por embolia gordurosa, causada pela queda", disse o advogado.
O advogado afirma que os laudos feitos pelos peritos do Instituto de Criminalística e do IML desprezaram a queda de 20 metros ao analisar as lesões na menina. Levorin diz que a criança teve lesões no pescoço provocadas pelo processo de ressucitação, feito pelo atendimento médico de urgência logo após a queda.
A tese da defesa permanece a mesma. Levorin voltou a afirmar que uma terceira pessoa esteve dentro do apartamento e atirou a menina pela janela. Para ele, a existência desta terceira pessoa não foi investigada. Ele lembrou de uma camisa encontrada no apartamento de Cristiane Nardoni, irmã de Alexandre, que fica no mesmo prédio.
Nesta camisa, acrescentou, teria sido encontrado sangue de uma pessoa do sexo masculino e ele não foi reconhecido como sendo de Alexandre Nardoni.
O advogado voltou a falar ainda que ocorreu uma invasão de um imóvel atrás do Edifício London na noite do crime. Esta hipótese foi afastada pela polícia, depois que o pedreiro que trabalhava na obra depôs e negou as informações que prestou ao jornal Folha de S.Paulo. A invasão do imóvel reforçaria a tese dos Nardoni, de que alguém entrou no prédio, jogou a menina pela janela e saiu sem ser percebido.
A promotora de Justiça Sandra Jardim afirmou que não há qualquer motivo para que o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá não seja julgado por júri popular pela morte de Isabella.
Num discurso em que optou pela linguagem técnica, ela afirmou que a "materialidade do crime" está escancarada e que há provas concretas de que o homicídio ocorreu e que Isabella foi jogada pela janela do apartamento do pai, no sexto andar.
"O cadáver diz que ela morreu, se foi por politraumatismo ou asfixia, é apenas um mérito causal", disse a promotora, rebatendo o argumento da defesa de que não houve asfixia anterior à queda.
Sandra afirmou que a prova contra o casal Nardoni é exuberante e a causa deve ir a julgamento como manda a lei - em homicídio, o acusado é julgado por júri popular.
A promotora desqualificou os argumentos da defesa e criticou o perito George Sanguinetti, que, a pedido dos advogados do casal, tentou desqualificar as provas colhidas pela polícia paulista.
Num discurso duro, ela afirmou que o médico legista não fez "mais do que 20 perícias em seus 30 anos de profissão" e não pode criticar o maior instituto criminal da América Latina, que é o da polícia paulista.
Para a promotora, é normal em crimes onde mais uma pessoa é acusada de atuoria que não haja objetividade completa sobre qual a participação de casa um na morte.
Porém, ressaltou, o laudo é claro ao mostrar que Isabella Nardoni apresentou ferimentos no pescoço
"O mérito tem que ser examinado pelo júri, que é o juiz constitucional da causa", disse a promotora, afirmando que o juiz Maurício Fossen, do 2ª Vara Criminal do Forum de Santana, deu prazo maior para a defesa se manifestar e pedir novos interrogatórios.
Marco Polo Levorin, advogado do casal Nardoni, chegou a pedir a palavra para contestar, mas foi impedido pelo desembargador Luís Soares de Mello.
Anna Carolina e Alexandre estão presos desde maio do ano passado. O casal já teve negados pelo menos 11 pedidos para responder ao processo em liberdade. O subprocurador-geral da República Mário José Gisi enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um parecer em que recomenda que os dois continuem presos até o julgamento.
Alexandre e Anna Carolina Jatobá respondem por homicídio doloso triplamente qualificado e por fraude processual (alteração da cena do crime).
Segundo a polícia, Isabella foi estrangulada pela madrasta e arremessada do 6ª andar do edifício London, na Vila Mazzei, zona norte de São Paulo, pelo pai, que cortou a rede de proteção da janela do quarto dos filhos. O casal nega o assassinato.
O promotor Francisco Cembranelli afirma que os advogados tentam fazer com que o caso caia no esquecimento.
"É claro que tudo isso será reavivado e muito por ocasião do julgamento, ainda que ele demore um pouco. Se dependesse de mim, o julgamento já teria acontecido", disse Cembranelli.
Segundo o promotor, se os desembargadores negarem o recurso da defesa, o julgamento será marcado imediatamente.
Porém, ainda cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A mãe da menina Isabella, Ana Carolina Oliveira, diz que quer ter outro filho e que sente uma saudade imensurável da garota.
Em uma entrevista exclusiva ao Globo, onde chorou várias vezes, Ana Carolina afirma que ainda não consegue ter uma vida normal e que sofreu várias recaídas. O que mais a deixa triste é não conseguir sentir o cheiro de Isabella nas roupas. Ana Carolina pensa em ter outros filhos e se apegou muito à afilhada, Giovana, que tem a mesma idade de Isabella.