A população de Curitiba, estimada em aproximadamente 1,8 milhão de habitantes, produz diariamente 2,4 mil toneladas de lixo. Desse total, 1,8 mil toneladas vão para o aterro sanitário da Caximba, na região metropolitana da capital. O restante é coleta seletiva, lixo reciclável, recolhido pelos caminhões da prefeitura municipal, dentro do programa Lixo que não é Lixo.
Segundo o coordenador do Departamento de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania, Sérgio Roberto Faria, são os catadores de materiais recicláveis os responsáveis pela maior parte da coleta do lixo colocado nas portas das residências. Cerca de 92% do que é separado são eles que coletam.
"O programa municipal foi novidade quando lançado em 1989, hoje é deficitário", afirmou. O instituto é responsável por 53 arranjos coletivos em Curitiba, na região metropolitana e em municípios da área de Foz do Iguaçu.
De acordo com Sérgio Faria,atualmente em Curitiba e região metropolitana há cerca de 15 mil catadores. "Eles conseguem uma renda média de R$ 450,00. Mas a crise financeira está reduzindo bastante este ganho. Caiu o preço pago pelo metal; o papelão, que no ano passado era vendido por R$ 0,23, atualmente os catadores que não estão organizados em associações ou cooperativas chegam a receber apenas R$ 0,15 de atravessadores. A garrafa pet caiu de R$ 0,90 para R$ 0,50", disse.
Em sua opinião, o que pode melhorar a renda desse trabalhador são políticas públicas. Ele citou como exemplo o decreto assinado no início deste ano pelo governador Roberto Requião que destina todo o material reciclável gerado pelos órgãos públicos estaduais, autarquias, empresas públicas, fundações e sociedades de economia mista às associações e cooperativas de catadores.
O projeto paranaense foi inspirado no do governo federal, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate Fome, que destina às cooperativas de catadores o material reciclável das repartições públicas. A população paranaense produz 20 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 40% podem ser reciclados.
A prefeitura municipal contribui para a geração de renda com o projeto Parques de Reciclagem Ecocidadão. "A idéia é construir 25 parques, mas até agora só temos quatro", disse o coordenador do Departamento de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania. No projeto, o material coletado é pesado individualmente e fica registrado na ficha de cada coletor. O dinheiro é rateado entre os associados toda sexta-feira.
A prefeitura mantém também o programa Compra do Lixo, em áreas de difícil acesso para os caminhões de coleta. A população faz a coleta em sacos plásticos e deposita numa caçamba. De um a quatro sacos vale uma sacola com um tipo de produto no valor de R$ 0,53. Quem deposita cinco sacos recebe uma sacola que equivale a 5 x R$ 0,53, contendo arroz, feijão, mel, batata, cenoura, cebola, alho e doce. A Associação de Moradores recebe 10% do valor pago por cada saco de lixo para aplicar em obras ou serviços definidos pela própria comunidade.
Tem ainda o Câmbio Verde, que troca lixo reciclável por hortigranjeiros. Cada quatro quilos de lixo vale um quilo de frutas e verduras. Pode ser trocado também óleo vegetal e animal: dois litros de óleo valem um quilo de alimento. Recentemente a prefeitura adotou o programa Lixo Tóxico.
Pilhas, baterias, toner, tintas, embalagens de inseticidas, remédios vencidos, lâmpadas fluorescentes, óleo animal e vegetal embalados em garrafa pet podem ser depositados em caminhões estacionados em terminais de ônibus.
O secretário municipal do Meio Ambiente, José Antonio Andreguetto, destacou que Curitiba sempre serviu de modelo por suas inovações em relação ao tratamento dos resíduos sólidos. "Para não perder essa vanguarda, daremos mais um passo que irá mudar a história do tratamento de lixo no Brasil. Vamos parar de enterrar lixo em aterro sanitário e passar a aproveitar os resíduos como fonte de matéria-prima, emprego e renda", afirmou referindo-se ao Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos, que deverá ser implantado até o fim deste ano.