O começo do vício é sempre parecido. Primeiro é o consumo de maconha, depois vem a cocaína. O crack é o próximo passo. Ele não escolhe cor, gênero, classe social ou religião. Com poder avassalador, invadiu a sociedade, quebrou regras, transpôs limites e escravizou milhares de pessoas.
Há pessoas que acreditam ser mais fortes que o vício. Marcela, 30 anos, que usou crack por seis meses, é um exemplo. Quando eu comecei, na primeira noite, pensei que fosse ter controle sobre isso, como eu tinha sobre a cocaína. Mas vi que, na segunda semana, já tinha perdido completamente o domínio, porque fazia isso 24 horas por dia, diz.
De família de classe média do Rio Grande do Sul e mãe de duas meninas, ela começou a consumir crack após a morte da mãe. Minha família estava passando por uma turbulência e me aproveitei muito disso, afirma. Marcela não estava sozinha, pois a irmã era sua companheira de uso, inclusive, era ela quem fazia o contato com traficantes.
A compulsão pela droga era tão grande que Marcela desfalcou a empresa do pai, na qual também trabalhava, para comprar crack.
Rodrigo, 34 anos, morador de uma favela de São Paulo, usou crack por quatro anos, o suficiente para levá-lo ao fundo do poço. Para conseguir a droga, ele roubava o dinheiro do comércio da mãe. Ela tem um barzinho, e eu pegava muito dinheiro do caixa. Às vezes, ela tinha dinheiro no cofre e eu furtava para usar drogas, disse.
Rodrigo afirma que o efeito de apenas 15 segundos provoca sensações de poder e êxtase aos usuários. O crack tem um poder muito grande de vício. Ele dá um prazer ilusório, dá vontade de querer sempre mais. É nessa vontade que você larga tudo de lado.
O crack é descrito pelos usuários como uma droga egoísta. Dependentes deixam aos poucos o convívio familiar, amigos e trabalho. Isolam-se. Até os companheiros de uso são abandonados. A vida social passa a não existir mais. E as alucinações provocadas pela paranóia pós-droga começam a atormentar.